Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
São diversos candidatos que estão cometendo erro na construção da estratégia. Isto ocorre devido à ausência de interpretação satisfatória da conjuntura e por não fazer pesquisas com as indagações necessárias. Geralmente, os políticos sofrem da ilusão dos números. Por consequência, cometem dois erros: 1) Acreditam que a liderança de hoje será mantida. Desconsiderando que o eleitor é liquido. Embora, claro, um candidato possa manter a liderança até o sucesso eleitoral; 2) Somam as intenções de votos para justificar a aliança entre competidores.
A eleição de 2022 não será normal. As pesquisas qualitativas revelam um eleitor irritado, disposto a debater temas morais, consciente da polarização entre Lula versus Bolsonaro, com pouca esperança, reclamando da inflação e do alto preço dos combustíveis. E mais: elas identificam um votante que quer resolver primeiro os problemas nacionais. Depois, resolver os desafios do Estado.
A eleição ainda está morna. Mais fatos virão que tornarão a disputa eleitoral fortemente turbulenta. Não vejo, por ora, eleitores dispostos a sair da polarização Lula versus Bolsonaro. Apesar de muitos desejarem. Encontro o eleitor estratégico, o qual votará no que menos rejeita para presidente da República. Enxergo as eleições estaduais nacionalizadas. Os votantes, diante da turbulência na eleição nacional, não terão tempo de refletir sobre os problemas dos Estados. Os desafios das unidades federativas são secundários.
Apesar do grande volume de pesquisas eleitorais para presidente da República e das várias estratégias de marketing sendo elaboradas e discutidas, sinto falta da previsão sofisticada da eleição. As pesquisas, qualitativas e quantitativas, devem indagar ao eleitor se acreditam na ocorrência de eleições neste ano. Precisam identificar se as turbulências econômica, social e política estão, lentamente, colocando em risco o pleito eleitoral. A pergunta principal desta eleição é: Quais serão as consequências para o eleitor caso intensas turbulências econômica, social e política aconteçam?
Caso não corra eleição ou os eleitos não tomem posse, não será em virtude da presença de tanques militares nas ruas. Mas em razão das declarações do presidente Bolsonaro colocando em dúvida a licitude da eleição e de manifestações intensas nas redes sociais e nas cidades. 2022 será um pouco parecido com 2018. Não será 2014. 2022 terá uma disputa eleitoral atípica, onde o intenso tumulto que deve surgir requererá estratégias de campanha diferentes.