Por Adriano Oliveira – Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio da Contexto Estratégia. Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
Quais são os mecanismos que regem a eleição proporcional? Esta pergunta está presente na mente de muitos competidores. Porém, alguns têm a resposta, outros relutam em acreditar na obviedade dela. E alguns não sabem de fato a resposta. Os mecanismos da eleição proporcional são diminutamente considerados no raciocínio daqueles que desejam pesquisar ou pensar a dinâmica eleitoral brasileira.
A dinâmica da eleição proporcional é caracterizada pelos seguintes fatores: 1) Prefeitos arregimentam eleitores; 2) Lideranças comunitárias são instrumentos para a conquista de eleitores; 3) Troca de favores entre eleitor e candidato permite a conquista do voto; 4) Eleitores admiram candidatos.
O prefeito é ator estratégico na conquista de votos para candidatos. Neste sentido, deputados eleitos são aqueles que possuem prefeitos. Mas como possuir prefeitos? Possuir prefeitos parte da ideia de que eles são controlados pelo deputado com mandato ou por aquele que deseja ser parlamentar. O controle do prefeito ocorre através da negociação política, onde benefícios são ofertados pelo competidor a eles.
Favores podem ser distribuídos ao eleitor em razão do prefeito ter o controle da máquina pública do município. Deste modo, prefeitos adquirem condições de conquistar ou manter eleitores. Tal prática é característica. Não representa, portanto, exceção. Quantos votos um prefeito tem condições de dar ao candidato? O potencial de voto do prefeito é proporcional a sua importância/valor para o competidor.
As lideranças comunitárias exercem força sobre muitos candidatos, mas não necessariamente sobre os eleitores. Elas representam, teoricamente, a comunidade. Isto é: através das lideranças, os competidores podem conquistar eleitores. A relação entre candidatos e lideranças é caracterizada pela troca de benefícios. O competidor deseja o voto. A liderança deseja algum benefício, dentre os quais, financeiros. As lideranças organizam festas nas comunidades e prestam favores com o auxilio do candidato. Através destes instrumentos, eles buscam conquistar o voto do eleitor e a confiança do candidato.
Lideranças propagandeiam o seu potencial de votos, ou seja, quantos votos eles dão a um competidor. Políticos experientes afirmam que o potencial de voto de uma liderança equivale a 30% do que ele diz ter para dar ao competidor. Então, se a liderança afirma que tem 2000 votos, na verdade ela dará 600 votos ao candidato.
Existem eleitores que votam pela amizade e os que votam por admirar o candidato. O voto pela amizade caracteriza-se por algum favor prestado ao eleitor no passado. Favor este concedido não só a ele, mas a algum membro da família. Mas também, pelo fato do eleitor conhecer o candidato e este o tratar bem sempre que o encontra.
Não se devem desprezar os eleitores que admiram as ideias e as atitudes do candidato – “votos de opinião”. Se este, por exemplo, defende o direito dos trabalhadores ou a união homossexual, eleitores podem ser conquistados. Os competidores que pautam a sua conduta pela oposição a algum governo também conquistam eleitores.
Aparentemente não existem mistérios para vencer a disputa eleitoral proporcional. Mas os mecanismos requerem necessariamente ação dos competidores com a intenção de conquistar eleitores. Deste modo, faz-se necessário que os concorrentes reconheçam que prefeitos, lideranças, favores, amizade e ideias/bandeiras possibilitam, conjuntamente, o sucesso eleitoral. A dúvida, entretanto, é saber o que mais importa para o sucesso do competidor.