Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
O presidente Jair Bolsonaro obteve 58.206.354 votos no 2° turno da disputa presidencial. Não restam dúvida que Bolsonaro tem, aparentemente, grande patrimônio eleitoral. Pesquisa Atlas Intel realizada em outubro deste ano revela que 26,9% dos eleitores declaram ser bolsonaristas e 44,9% antibolsonarista. 30,2% declaram-se antipetistas. 45% frisam que não são “nem petista, nem antipetista”. E 28% “nem bolsonarista, nem antibolsonarista”.
Os dados da Atlas Intel não sugerem futuro promissor para o bolsonarismo. Soma-se a isto, a falta de habilidade política de Jair Bolsonaro para dialogar e liderar pessoas. Esta minha afirmação tem respaldo na realidade. Não é hipótese. No exercício da presidência da República, Jair Bolsonaro colecionou desafetos, abandonou aliados, atacou as instituições, promoveu conflito. O seu comportamento possibilitou forte reação das instituições.
Com o tempo, observo que ocorrerá a desbolsonarização de variados atores políticos. Os que insistirem perderão a oportunidade de aproveitar o retorno do novo ciclo à política brasileira. Nem todos virarão lulistas. Mas muitos optarão por fazer oposição civilizada ao governo Lula ou a participar dele. Oposição civilizada significa respeito aos oponentes e exacerbação do diálogo. No novo ciclo, o extravagante debate moral perderá força para os debates econômico e social.
A regular ou alta popularidade do governo Lula possibilitará o enfraquecimento do bolsonarismo nos âmbitos da política e da opinião pública. Quanto mais popular, mais adeptos à coalizão governamental. Quanto mais popular o governo do PT, maior celeridade na necessidade dos atores políticos de desbolsonarizar a atuação. Todavia, o governo Lula pode ser impopular. Assim ocorrendo, mas vejo como cenário remoto, a desbolsonarização não acontecerá ou ocorrerá lentamente.
Jair Bolsonaro chegará à eleição municipal em condições de influenciar a formação de bancadas legislativas. Não prevejo força suficiente para alavancar candidaturas para o Executivo em razão de: 1) A eleição municipal tende a ser municipalizada. A popularidade do prefeito importará muito, assim como sempre ocorreu; 2) A desbolsonarização ocorrerá, conforme exemplifiquei; 3) Jair Bolsonaro não liderará a Direita civilizada. Mas a extrema-direita. Ressalto que novos atores, como Romeu Zema e Tarcísio Freitas serão atores estratégicos na Direita não bolsonarista.