Por Adriano Oliveira – Cientista Político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência – Pesquisa & Estratégia.
As pesquisas quantitativas eleitorais voltam a ser notícia. O jornal o Globo do dia 07/05/2024 traz interessante matéria sobre o mercado de pesquisas. O periódico revela que em 2012, de janeiro a abril, foram 373 pesquisas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas eleições subsequentes foram: 2014, 204; 2016, 308; 2018, 121; 2020, 296; 2022, 263; 2022, 1.127. Neste ano, alta expressiva.
A matéria do Globo traz como tema a preocupação do TSE e do Congresso com o financiamento próprio das pesquisas eleitorais. Ou seja: os próprios institutos financiam as pesquisas. O aparentemente esperado era que partidos políticos, empresas e candidatos contratassem pesquisas. Tenho como hipótese principal de que empresas de pesquisas financiam pesquisas com o objetivo de conquistar clientes. Quanto mais pesquisas fazem, mais a marca do instituto é divulgada.
O ponto fundamental é que existe uma fábrica de intenção de votos. Ela não é de responsabilidade dos institutos de pesquisas. Eles apenas cumprem com o seu papel de ofertar serviços. São os candidatos, a imprensa, apostadores (isto mesmo!) e empresas que alimentam o mercado de pesquisas de intenção de voto. Eles estão ávidos por números. Querem sabem quem lidera a disputa. Mesmo sabendo que pesquisa quantitativa de intenção de voto é retrato do momento e não é previsão eleitoral.
Em virtude da presença do grande interesse de variados atores, empresas de pesquisa que ofertam a pesquisa de intenção de voto proliferam no Brasil. A proliferação é positiva. Pois os institutos concorrem entre si, são obrigados a reduzirem o preço, inovam, e buscam credibilidade. Saliento, contudo, que no quesito inovação, ela quase não existe. Pois, como frisei, o que importa para os contratantes é a variável intenção de voto.
Por outro lado, a proliferação também coloca em risco a credibilidade dos institutos de pesquisa. Mas isto, mais uma vez, não é culpa das empresas de pesquisa, mas da indústria de intenção de voto. Variados atores, independente do período da eleição, contratam a pesquisa para descobrir quem está à frente na disputa eleitoral e quem, supostamente, vencerá a eleição. Quando a pesquisa é divulgada, o candidato-contratante ou o candidato-interessado, caso lidere a disputa, solta fogos e já encomenda nova pesquisa. A imprensa divulga o resultado como se já fosse o das urnas. As redes sociais são invadidas por cards divulgando a posição de cada competidor retratada pela pesquisa.
O movimento relatado gera uma reação. O candidato que não aparece bem na pesquisa divulgada reclama do resultado na Justiça, a militância divulga a informação nas redes sociais de que a pesquisa está errada ou foi “manipulada”, e variados “analistas” cometam o resultado dela levantando milhões de hipóteses, mas sem ofertar explicação satisfatória sobre as escolhas dos eleitores e sem qualquer previsão eleitoral.
A dinâmica apresentada contribui para minar a credibilidade dos institutos de pesquisa. Mais uma vez, repito: e isto não é da responsabilidade deles. As empresas de pesquisa sempre deixam claro que pesquisa de intenção de voto não é predição eleitoral, mas retrato do momento. São os contratantes, quaisquer que sejam eles, que acreditam no falso poder da intenção de voto, e usam a pesquisa para pressionar a escolha dos votantes, as decisões de lideranças, partidos políticos, apostadores e empresas.
Não faz bem ao mercado de pesquisa a forte regulação institucional. A credibilidade de cada empresa de pesquisa deve ser construída sem a mão forte das instituições. Cada instituto é responsável pela construção da sua credibilidade ao zelar pelos dados coletados, ao buscar inovação metodológica e ir além da intenção de voto. Lembrando que a dinâmica perversa que apresentei neste artigo, a qual gera críticas aos institutos de pesquisa, pode não ter fim. Pois a indústria da intenção de voto fala muito alto.
Uma informação: A Cenário Inteligência, empresa de pesquisa e estratégia, da qual sou fundador, optou por não participar da indústria da intenção de voto. Ela faz, exclusivamente, pesquisa qualitativa.