Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
Eventos políticos são distintos de eventos eleitorais. Os primeiros podem conduzir aos segundos. Mas não necessariamente isto ocorre. Os eventos políticos são aqueles que ocasionam impacto entre os atores políticos, por exemplo, entre os candidatos que disputarão dada eleição. Os eventos eleitorais são advindos dos eventos políticos e provocam os eleitores. No caso, eleitores mostram empatia ou antipatia por dados competidores.
A aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva representa, até o momento, um evento político. Não posso afirmar categoricamente que este evento proporcionará conquista de eleitores por parte de Eduardo Campos. Ou se o capital eleitoral de Marina Silva será enfraquecido em virtude da aliança com o PSB. Estou ainda no momento de criar hipóteses, as quais precisam ser testadas em pesquisas constantes na trajetória eleitoral, a qual terá a sua etapa inicial findada em junho de 2014.
É possível que o suspense quanto ao desempenho eleitoral de Eduardo Campos perdure até meados de 2014. A não ser, que Marina declare que não será candidata a presidente da República e que integrará a chapa de Eduardo Campos. Caso tal ação não seja realizada, dois cenários serão considerados pelos institutos de pesquisas: Cenário 1: Eduardo X Dilma X Aécio; Cenário 2: Marina X Dilma X Aécio. Os testes eleitorais considerando estes dois cenários poderão trazer problemas para o PSB, pois, intenções de voto orientam as decisões dos atores políticos.
Se Marina mantiver até abril de 2014 o seu bom porcentual de votos detectados antes da aliança com Campos, quem será o candidato do PSB?Esta pergunta é fundamental. Por outro lado, a aliança entre Campos e Marina pode contagiar eleitores e possibilitar o crescimento eleitoral célere do governador de Pernambuco até abril de 2014. Com isto, Eduardo exercerá força centrípeta entre os partidos, por ora, aliados de Dilma e Aécio.
Mas a força centrípeta não pode ser forte a tal ponto de esvaziar substancialmente o capital eleitoral de Aécio Neves. Se Aécio não tiver considerável tempo de TV, pois partidos poderão migrar para a candidatura de Eduardo, a possibilidade de sucesso eleitoral de Dilma no primeiro turno se fortalece. Portanto, Eduardo tem como o seu adversário imediato o PSDB, mas este não pode ser amplamente enfraquecido.
Confesso que ainda reflito sobre a seguinte possibilidade: Se Marina tivesse ido para qualquer outro partido menos o PSB, ela teria condições de ser candidata a presidente ou a vice-presidente. No PSB ela tem também estas possibilidades. Mas caso ela tivesse optado por outro partido, ela poderia ser vice-presidente de Eduardo e ainda levar para ele tempo de TV. Com a filiação dela ao PSB, os partidos que não desejam Dilma, poderão optar por Aécio ou Eduardo. Mas se a possível chapa Eduardo e Marina não conquistar eleitores até meados de 2014? Tais partidos poderão rumar para Aécio, e, talvez, para Dilma. Além disto, Marina em outro partido garantiria a possibilidade de que a disputa presidencial ocorresse com três candidatos oposicionistas com potencial de crescimento eleitoral.
A aliança Eduardo e Marina assusta eleitoralmente, por enquanto, mais Aécio. As pesquisas realizadas após as manifestações mostram que quando Dilma decresceu eleitoralmente, Marina cresceu. E quando Marina decresceu, Dilma cresceu. Portanto, parte dos eleitores de Marina rumará para Dilma em razão da aliança com Eduardo? Neste ponto, observo que Eduardo e Marina precisam construir discurso alternativo à Dilma nos âmbitos objetivos e subjetivos. Com isto, será possível conquistar eleitores e enfraquecer a candidatura Dilma?
Construir conclusões eleitorais em razão da aliança Eduardo e Marina neste instante é ato prematuro. Opto por sugerir possibilidades eleitorais. Deste modo, considero que a chapa Eduardo e Marina tem condições de conquistar eleitores, mas isto não significa que eles irão para o segundo turno ou que a eleição não findará no primeiro turno. Tenho, entretanto, uma conclusão política: a aliança Eduardo e Marina possibilita que as escolhas do governador de Pernambuco, qualquer que sejam elas, terão forte impacto na eleição de 2014.