Por Adriano Oliveira – 47 anos. Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
Apesar do entusiasmo de variados políticos, a 3° via sofre, até o instante, com escassez de votantes. Todavia, isto não significa que algum candidato da 3° via não tenha condições de conquistar eleitores. Pesquisas qualitativas realizadas, em particular no Nordeste, sugerem que estão presentes no ambiente eleitoral, os votantes que rejeitam Bolsonaro e Lula.
Entretanto, mesmo diante das condições propícias para o crescimento de um candidato da 3° via, o fortalecimento eleitoral dele é tarefa árdua. De um lado, o bolsonarismo. Manifestação ideológica que resiste em parcela do eleitorado brasileiro mesmo em condições profundamente adversas. Vejam que o Brasil convive com alta da inflação, pandemia e carência de oportunidades econômicas. Porém, o presidente Jair Bolsonaro está obtendo lenta recuperação nas pesquisas.
No outro lado, está o lulismo. No auge da Lava Jato e com o ex-presidente Lula preso, Fernando Haddad foi ao 2° turno da eleição presidencial. A rejeição do candidato do PT diminuiu a partir de 2017; e há um bom tempo, ele lidera a corrida eleitoral. Portanto, o lulismo como fenômeno econômico resiste, apesar de todos os ataques sofridos.
Lulismo e bolsonarismo são fenômenos resistentes e solidificados no ambiente eleitoral. Ambos sofrem processo continuo de retroalimentação, e provoca, de maneira concorrente, medo entre os votantes. O mecanismo é simples: o eleitor que rejeita Bolsonaro teme a vitória dele e, por consequência, vota no Lula, pois este é o único capaz de vencer o presidente da República no turno final. Por sua vez, o votante que rejeita Lula, vota em Bolsonaro, pois acredita que ele é o único capaz de impedir a volta do PT. Tal mecanismo é uma barreira para o crescimento da 3° via.
Falta a 3° via identidade. Tal ausência compromete o seu desempenho entre os eleitores. Políticos defensores da 3° via não sabem quem é o seu principal adversário: Lula ou Bolsonaro? Na 3° via estão presentes os políticos que preferem Bolsonaro a Lula. Ou o candidato do PT, em vez do candidato do PL.
Estrategicamente, a 3° via tem duas opções: 1) Esquecer Lula e Bolsonaro e falar sobre o futuro com o eleitor; 2) Ou definir quem é seu adversário imediato e principal. A 3° via, até o instante, ainda não fez nenhuma opção. Constato que a suposta 3° via pratica jogo duplo: vejam o debate sobre a CPI da Educação no Senado. E nem ela mesmo trabalha para o seu crescimento.