Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência – Pesquisas e Estratégias.
O presidente Lula foi eleito em 2022 em razão de três fatores fundamentais: 1) Conjuntura econômica negativa; 2) O bolsonarismo não conseguiu ser maioria, embora tenha tido oportunidade, entre os eleitores de menor renda; 3) Memória positiva das suas eras em parcela do eleitorado. Se a variável 3 não estivesse presente, memória positiva, Lula voltaria à presidência da República?
As pesquisas qualitativas mostram que eleitores têm memória, sabem dizer quem foi o melhor prefeito, governador e presidente da República. Em 2022, as entrevistas em profundidade na região Nordeste revelaram que Lula era para diversos votantes o melhor mandatário da República por ter olhado para os pobres. Quando indagados quem poderia fazer mais pelos eleitores de menor renda, caso vencesse a eleição presidencial, os votantes de estratos de renda menores não titubeavam: Lula.
O Brasil de 2023 discute temas debatidos na era FHC (1994 a 2002). A ausência de novas agendas na opinião pública condena o Brasil a ser o país do futuro. FHC inaugurou o debate sobre equilíbrio fiscal e democracia. Lula manteve a agenda fernandohenriquista e incluiu a inclusão social. Dilma manteve em vigor os temas lulistas. Embora tenha tentado, sem sucesso, implantar a agenda econômica com base, exclusivamente, na ação do Estado.
Jair Bolsonaro, eleito em 2018, representou a inflexão com as eras FHC, Lula e Dilma. Instituições e democracia foram atacadas. Paulo Guedes, como a sua visão capenga do Brasil, exacerbou na intenção liberal. Apesar da meritória reforma da Previdência realizada na era Bolsonaro, não ficou claro, qual era a real intenção de Jair Bolsonaro, ou melhor, de Paulo Gudes. Pois, no ano eleitoral, em 2022, o então presidente usou intensamente recursos de bancos públicos e do Tesouro para conquistar os pobres e a classe C.
Lula é reeleito e resgata as agendas do controle fiscal, da inclusão social e da democracia. Em razão disto, o novo governo aparenta ser velho, representante do passado. Mas não é. O que aconteceu foi que o presidente Lula precisou trazer agendas antigas para o presente em razão de que elas sofreram interrupção na era bolsonarista. Obviamente que Lula não viverá eternamente do resgate do passado para conquistar popularidade. Todavia, vislumbro que será em 2026 o debate entre passado e futuro do Brasil. Quem será o candidato que representará o futuro?