Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência
A dinâmica da eleição municipal no interior é para diversos atores semelhante há de 100 anos atrás. Pré-candidatos procuram vereadores, especulam sobre os adversários, vão às emissoras de rádio esculhambar o prefeito, usam exageradamente o termo grupo político, passam horas especulando sobre um futuro plausível. Os prefeitos, candidatos à reeleição, por sua vez, verbalizam que têm maioria na Câmara, intensificam o contato com lideranças de bairros, tentam conquistar competidores opositores com promessas de espaços na máquina pública.
O ambiente eleitoral mudou relativamente em razão de diversos fatores. O mais visível é a presença das redes sociais onde as informações circulam intensamente. São elas que possibilitam o julgamento do mandato do gestor, que expõem os candidatos, que dão voz à população satisfeita e insatisfeita, que permitem que o pré-candidato apresente críticas à gestão e que, infelizmente, notícias falsas criem realidades e crenças.
O ambiente eleitoral mudou em razão do desenvolvimento socioeconômico de diversas cidades. Por consequência, as demandas do eleitor do passado não são as mesmas. É possível que a paralisia econômica da cidade tenha provocado o surgimento de novos desejos eleitorais e crie votantes ávidos à mudança. O ambiente eleitoral também pode ter mudado em virtude de gestões bem-sucedidas que permitem que prefeitos do passado sejam condenados ao desprezo e irrelevância. Ou que a série de gestões ineficientes façam nascer eleitores desacreditados à procura, sem muita confiança e esperança, de um candidato-novo.
Aliás, um candidato-novo e jovem sempre desponta como favorito na boca dos especuladores do resultado eleitoral. Geralmente, o desejo do novo está presente. Mas isto não significa que um jovem candidato seja um candidato-novo. Juventude não tem nada a ver com ser candidato-novo. O candidato-novo é aquele que sugere novas práticas políticas, que propõe, que corre da briga tradicional e que deixa de pronunciar o termo grupos políticos.
Quando um candidato fala em grupo político, a depender do tamanho deste, ele pode estar desprezando imensidão de eleitores. O candidato do grupo X, ao verbalizar para o seu grupo, despreza, automaticamente, o competidor do grupo Y. Entre X e Y, estão os eleitores indiferentes, os quais, geralmente, são desprezados pelo discurso dos candidatos. Entretanto, é possível que os votantes indiferentes sejam os definidores da eleição. Falar apenas para o grupo político ao qual pertence, enfraquece a possibilidade de crescimento do seu grupo e de enfraquecimento do grupo concorrente.
Construir competitiva chapa de candidatos a vereador é fundamental. Estar em todos os cantos da cidade defendendo à gestão, é ação necessária e imediata para o prefeito que busca à reeleição. A oposição deve estar também nas ruas mostrando, educadamente, e respeitosamente, afinal, brigas e agressividade assustam o eleitor não fanático, as deficiências da gestão. Ter em cada bairro representantes aguerridos é imprescindível.
É importante que a comunicação política não seja desprezada. Mas comunicar não é mostrar, diariamente, alegrias, fotos com a família e esgoto a céu aberto. É propor ações, mostrar soluções, evidenciar os avanços ou a ineficiência da gestão. É ter palavras-chaves que despertem os sentimentos positivos dos eleitores para consigo. Ter narrativa que desconstrua o adversário é estratégia ótima. Lembrando que a desconstrução do outro não advém da denúncia e incivilidade, mas da proposição e posicionamento. Eleitores estão à procura de soluções para as suas demandas.
Independente do tamanho do município, a estratégia da pré-campanha e da campanha advém da pesquisa qualitativa. Candidatos e prefeitos que disputam à reeleição não devem se enganar com a pesquisa quantitativa, em particular, com a intenção de voto e a avaliação da gestão. Estas variáveis, quando analisadas separadamente dos desejos e sentimentos dos votantes, os quais são identificados através da pesquisa qualitativa, têm muito pouco poder elucidativo.
O que importa em qualquer disputa eleitoral é em qual conjuntura a eleição será disputada. A pesquisa qualitativa deve decifrar a conjuntura atual e vindoura. A depender da conjuntura, candidatos terão chances ou não de vencer a eleição. Quando as conjunturas presentes e futura são desvendadas e interpretadas adequadamente, é possível apontar, com clareza, as chances de sucesso do candidato.