Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
Análises, previsões e estratégias obedecem a lógica científica. Não recomendo construí-las desprezando as pesquisas qualitativa e quantitativa. São essas que levam o rigor científico para os ambientes eleitoral e político e possibilitam que a miopia não reine no cérebro dos políticos e dos assessores. Ter as evidências presentes no cotidiano como dados que conduzam ao raciocínio também é fundamental.
Logo após o 1° turno da última eleição, a miopia contaminou as análises e as previsões. Foi lugar-comum a afirmativa de que o próximo Congresso será conservador em virtude do desempenho eleitoral do PL, União Brasil, PP e Republicanos. A previsão ofertada era que se Lula fosse eleito presidente teria grande dificuldade para construir a coalizão partidária. A previsão e a constatação desconhecem a história do presidencialismo brasileiro.
O poder Executivo exerce sobre o Parlamento força centrípeta. Ele, naturalmente, atrai partidos para a sua base. Isto não ocorre, se as variáveis que dão robustez ao poder de atração do Executivo, não for colocada em prática. Parlamentares, dos mais diversos partidos, estão, por natureza, disponíveis para o diálogo e a oferta. Se o presidente tiver sabedoria, que é o caso de Lula, o suposto conservadorismo não será empecilho para a formação da coalizão partidária. Portanto, o novo governo do PT não terá, se seguir o manual do realismo político, dificuldades em construir base parlamentar.
Outra ideia e previsão apressadas estão em voga. O bolsonarismo terá forte poder para atrair eleitores na eleição municipal vindoura. Discordo de tal tese. Jair Bolsonaro é produto de crises, sem elas, ele sobrevive precariamente ou morre. A minha hipótese é de que o bolsonarismo estará presente no ambiente social enfraquecido, a não ser que o governo Lula seja produtor de crises política e econômica. Deste modo, o bolsonarismo não terá influência na eleição municipal de 2024, a não ser para as casas legislativas.
O rito da eleição municipal tende a seguir: 1) Prefeitos bem avaliados têm maior probabilidade de vencer a eleição; 2) Prefeitos bem avaliados e não candidatos à reeleição, caso escolham corretamente o sucessor, tende a vencer o pleito; 3) Prefeitos reprovados ou fracamente aprovados estão à espera da derrota, caso não mudem as estratégias. O que estiver fora destes ritos será o imponderável.