Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
As pesquisas do IPEC, Datafolha, MDA e Quaest divulgadas na última semana revelaram estabilidade na intenção de votos do ex-presidente Lula e do presidente Jair Bolsonaro. O mandatário da República apresentou, em pesquisas anteriores, leve recuperação. Entretanto, os dados recentes revelam estabilidade de ambos os competidores. Deste modo, os cenários sempre apresentados estão mantidos: 1) Lula vence no 1° turno; 2) Turno final entre Lula e Bolsonaro.
Não decreto, ainda, a vitória do ex-presidente, nem no turno inicial e nem no final. As duas semanas que restam para a eleição poderão ser monótonas, mas também bem intensas. Duas estratégias, as quais já estão em campo, podem levar o ex-presidente Lula a vencer no 1° turno: descredibilizar Bolsonaro e reativar a memória econômica dos votantes para a sua era. Jair Bolsonaro tem feito o necessário: associar fortemente Lula à corrupção. Não está claro se existirão mudanças leves ou abruptas no humor do eleitorado. As mudanças leves conduzirão Lula a vencer a disputa no 1° turno. As abruptas possibilitarão que Bolsonaro esteja no turno final contra o PT numa disputa sem favoritos.
Em pesquisas qualitativas que tenho realizado no Nordeste, observo o voto envergonhado no candidato do PT. Neste caso, o eleitor elogia Lula e o associa à corrupção (Roubou, mas fez pelos pobres). Mas quando indago sobre em quem vota para presidente, ele declara dúvida. Em nenhum instante, o votante afirma que votará em Lula, apesar de elogiá-lo.
Por sua vez, não encontro voto envergonhado em Jair Bolsonaro. O eleitor de Bolsonaro elogia o presidente e não titubeia em afirmar com ênfase que vota no presidente da República. Através da metodologia quantitativa, o cientista político Felipe Nunes da Quaest encontrou também o voto envergonhado para o ex-presidente Lula. Portanto, o voto envergonhado pode conduzir Lula ao sucesso no 1° turno.
A estabilidade da rejeição do ex-presidente sugere que os fortes ataques desferidos pela propaganda eleitoral de Bolsonaro contra Lula não tenham forte efeito. É possível que parcela do eleitorado esteja acostumada com as denúncias contra o candidato do PT, e não as considere. Como a disputa está entre duas grandes lideranças que despertam paixões e ódio, recomendo, ainda, prudência quanto ao final desta eleição.