Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
As pesquisas eleitorais quantitativas através da intenção de voto ofertam aparentes certezas para com o resultado da eleição: Lula vencerá o pleito eleitoral, tomará posse em 2023, e o Centrão o apoiará na Câmara dos Deputados. Não sou adepto da certeza apresentada. O futuro do Brasil para ser decifrado vai além da intenção de voto. O Brasil de hoje sugere forte incerteza quanto ao futuro.
Tenho repetido sistematicamente que o comportamento agressivo do presidente Bolsonaro para com as instituições, em particular, o STF e o TSE, sugere que a eleição de 2022 não será normal. Prevejo que em meados de agosto ou setembro, o seguinte intenso debate ocorrerá na campanha eleitoral: democracia ou golpe? Além, claro, das discussões em torno das agendas econômica e moral.
O debate sobre democracia ou golpe terá o poder, assim prevejo, de criar consensos eleitorais nas disputas para os governos estaduais. De um lado estarão vários candidatos defendendo a democracia, e, consequentemente, a candidatura Lula. E de outro, candidatos prol Bolsonaro. Com isso, o efeito da nacionalização do pleito estadual perde força e a estadualização da disputa para os governos estaduais acontece.
Prevejo, também, que o presidente Bolsonaro não aceitará passivamente a liderança nas pesquisas do ex-presidente Lula. Ele reagirá e tumultuará a eleição junto com parcela dos militares e apoiadores. Apesar dos aumentos da gasolina e da inflação afetarem negativamente a popularidade do presidente da República, eles servem para beneficiar o mandatário da República, pois têm o poder de tumultuar a vida social. Faz bem a candidatura do presidente, tumultos nas ruas, pois, em razão deles, a justificativa para o uso das Forças Armadas para a manutenção da ordem pública adquire força. E com o Exército nas ruas, não existem condições para a realização da eleição.
As previsões aqui expostas não são afirmativas. Elas representam, obviamente, cenários/possibilidades que precisam ser considerados. As evidências diárias me conduzem a construir as previsões apresentadas. O cenário de normalidade existe. Todavia, sigo considerando que a eleição vindoura não será absolutamente normal. Lembro que o adiamento da eleição e, também, o qual é mais um cenário, a não posse do presidente eleito, afetarão todos os cargos que estarão em disputa na eleição de 2022.