Impopular, Sarkozy apela a orgulho nacional por 2012
Thiago Azurem
abril 17, 2011
Folha de São Paulo, 17/04/2011, Giuliana Vallone.
A um ano das eleições, Nicolas Sarkozy vive momento crítico: com a popularidade em queda livre e pesquisas indicando que pode ficar fora da disputa, o presidente francês tenta reverter a situação. Até agora, sem sucesso.
"Jamais um chefe de Estado conheceu tal descida ao inferno", afirma a revista "Le Point", em reportagem intitulada "A Maldição", em que analisa o cenário atual.
Pesquisa do Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública) deste mês mostra que o percentual de pessoas que desaprovam o governo chegou a 70%, o maior do seu mandato -que teve início em 2007.
Para analistas, alguns fatores explicam a impopularidade. Em primeiro lugar, a situação econômica não é boa, e a principal reforma feita pelo presidente, que aumentou a idade mínima para a aposentadoria, foi altamente rejeitada pelos franceses.
"Nenhuma população gosta de um governo ou de um presidente que não consegue fazer políticas públicas favoráveis", afirma Stéphane Monclaire, cientista político e professor da Sorbonne.
Além disso, Sarkozy fez questão de centralizar as decisões e reduziu o papel do premiê. O resultado é que, quando as coisas vão mal, ele é o primeiro a ser culpado.
Nesse cenário, Sarkozy tenta ganhar popularidade enaltecendo o orgulho e a identidade francesa em duas frentes: com ações militares na Líbia e na Costa do Marfim, e levando o islã e a imigração ao centro da pauta.
ESTRATÉGIA
Para Monclaire, Sarkozy tenta dividir a esquerda e fortalecer a Frente Nacional para mostrar, no futuro, ser o único capaz de vencê-los.
"A estratégia até agora foi perigosa. Ele continua sendo impopular. E, ao chamar a atenção para a questão do islã, banaliza o discurso racista da FN. Assim, os franceses começam a achar simpáticas as ideias da extrema direita."
Nesse sentido, a França aprovou lei que limita o uso do véu islâmico, com o argumento de preservar a cultura do país. A medida entrou em vigor na semana passada.
A estratégia de Sarkozy se une ao fato de a FN ter, agora, uma nova imagem com Marine Le Pen.
O resultado é o crescimento das intenções de voto na extrema direita, que mostra chances de chegar ao segundo turno, como em 2002.
Paralelamente, Sarkozy tomou a dianteira da ofensiva internacional na Líbia, além de intervir na Costa do Marfim. A ação na Líbia foi elogiada pela oposição, seguindo tradição francesa de união em tempos difíceis.
Sarkozy está, agora, dentro de alguns ciclos viciosos que terá de vencer para elevar as chances em 2012.
"A situação é crítica. Não digo que já perdeu. Mas não vejo evento no curto e médio prazo que o fortaleça", diz o professor da Sorbonne.