Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE.
Desde 2019, o presidente Bolsonaro sofre processo de metamorfose. Processo adequado, o qual mostra a capacidade do mandatário da República a se adaptar às exigências advindas do exercício do poder. Inicialmente, o presidente optou por desconsiderar a classe política. Em seguida, escolheu, acertadamente, a conceder espaços no poder para variados políticos. Jair Bolsonaro descobriu o “bingo” da boa governabilidade: sem políticos, é difícil governar com êxito.
No ano de 2020, o presidente Bolsonaro participa de manifestações contra as instituições. Em particular, contra o STF. Sempre evocando o povo e a democracia, Jair Bolsonaro não criticava os manifestantes bolsonaristas que agrediam com palavras as instituições. Através do inquérito das Fake News, o STF coloca as coisas no lugar e o presidente da República recua.
A chegada da grave pandemia apresentou um presidente negacionista. Inicialmente, ele foi contra tudo: vacina e uso de máscaras. Entretanto, após o governador de São Paulo João Dória vacinar a primeira brasileira, o presidente Bolsonaro recua, e passa a defender a vacina. De repente, o STF oferta condições para o retorno do ex-presidente Lula as arenas política e eleitoral. Após discurso do ex-presidente, Jair Bolsonaro aparece de máscara e defende com ênfase a vacina.
Recentemente, economistas e grandes empresários manifestaram contrariedade com o enfrentamento à Covid-19 e com o desempenho da economia. O presidente Bolsonaro, até o instante, não fez aceno ao mercado. Após a pressão do PIB e do duro discurso do presidente da Câmara Artur Lira, o mandatário da República optou por não recuar, e apostou na solidariedade dos militares. Ela não veio e o presidente escolheu confrontá-los. O ministro da Defesa e os chefes militares saíram do governo. O presidente da República cedeu aos militares e ficou só.
O presidente Bolsonaro é pressionado pelas crises sanitária e econômica. Tem o olhar vigilante do Centrão. Os militares já deixaram claro que defendem a Constituição e a democracia. E o mercado perdeu o otimismo com o governo Bolsonaro. Portanto, neste instante, o presidente está só. Qual é a melhor saída para o presidente: a solidão, ceder ou radicalizar? A inaptidão para a política e o seu histórico de declarações não adequadas sugerem que ele pode ficar onde está ou radicalizar. Este último caminho não é estratégia ótima para o presidente da República.