No início da semana, manifesto assinado por economistas e grandes empresários trouxe reclamações quanto ao desempenho do governo Bolsonaro no enfrentamento à pandemia. Em seguida, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em entrevista coletiva, defendeu a ciência no enfrentamento à Covid-19. Na quarta-feira, o presidente Bolsonaro promoveu reunião para avaliar o enfrentamento à pandemia. Os presidentes da Câmara e do Senado, o ministro do STF, Luiz Fux, e alguns governadores, participaram.
No final da quarta-feira, Artur Lira discursou na Câmara e cobrou atitude do presidente Bolsonaro. No mesmo dia, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, participou de audiência no Senado e recebeu fortes críticas dos senadores. Durante a participação de Araújo, o assessor especial do presidente Bolsonaro, Filipe Martins, fez gestos estranhos e provocativos.
O senador Rodrigo Pacheco, presidente Senado, solicitou ao presidente da República a demissão de Filipe. Ainda na quarta-feira, o ex-presidente Lula saiu mais uma vez vitorioso no STF. E hoje, sexta-feira, o governador João dória anunciou a vacina brasileira para o enfrentamento à Covid-19. A semana terminou.
Os fatos narrados colocam na parede o presidente Bolsonaro. Expõe o previsível: o presidente não mais governa com forte independência. E o Centrão adquire mais força. O presidente Bolsonaro está emparedado.
Há muito tempo a escolha ótima está à disposição de Jair Bolsonaro. Qual seja: ceder. Ele já cedeu, não restam dúvidas, pois governa hoje com o Centrão. E tem dois aliados estratégicos: Artur Lira e Rodrigo Pacheco. Mas as consequências das intensas crises sanitária e econômica pressionam os aliados do presidente da República a lhe pressionarem. Mais a pressão advinda do simbólico julgamento do ex-presidente Lula no STF. E das ações de João Dória no enfrentamento à pandemia.
O diálogo com os governadores é necessário para o presidente Bolsonaro. São eles e os prefeitos que estão no enfrentamento direto ao coronavirus. Quando o presidente da República nega a necessidade do isolamento social como medida para amenizar os efeitos da pandemia no sistema de saúde, o conflito com os governadores é exacerbado. Portanto, ceder neste aspecto, é escolha estratégica para Jair Bolsonaro.
O presidente Bolsonaro precisa dar autonomia ao novo ministro da Saúde. Contribuir para acelerar o processo de vacinação. Mas isto não será suficiente: a demissão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; e do assessor Filipe Martins, são outras ações necessárias para enfraquecer as turbulências em seu governo.