Cenários eleitorais para 2022: já existe favorito?
Adriano Oliveira
março 12, 2021
Boletim da Semana/12 de março de 2021
Cenários eleitorais para 2022: já existe favorito?
Por Adriano Oliveira – Cientista político
A decisão do ministro Edson Fachin do STF inseriu o ex-presidente Lula na eleição de 2022. A dúvida, neste instante, é se o ex-presidente disputará a eleição presidencial vindoura. A opinião dominante afirma que sim. Tenho dúvidas, pois precisamos considerar o ambiente da eleição de 2022. Para tanto, sempre aconselho que pensar o futuro eleitoral de algum competidor requer sempre a construção de cenários.
O Brasil convive hoje com graves crises sanitária e econômica. O presidente Bolsonaro continua com discurso agressivo contra governadores, embora, após o discurso de Lula realizado na última quarta, ele tenha mostrado maior disposição em defender a vacina contra a Covid-19. O Auxilio Emergencial voltará. Existe expectativa de alta de juros. A inflação já está em alta e não existe unanimidade ainda quanto ao tamanho da recuperação econômica.
Não sabemos qual será no fim de 2021, o total de mortos em razão da Covid-19, e o total de contaminados. É incógnita também o quanto da população brasileira estará vacinada em dezembro de 2021.
Observo três cenários para a eleição presidencial vindoura. No primeiro (Cenário 1), o Brasil conviverá até a eleição com graves crises econômica e sanitária. Alta da inflação, aumento de juros, baixo crescimento econômico, limitação do Auxilio Emergencial, irritação do mercado para com o presidente Bolsonaro. Todos os elementos podem ter o poder de reduzir a popularidade do presidente Bolsonaro para abaixo de 30% e alavancar a do ex-presidente Lula. Neste cenário, o candidato do PT será favorito a vencer a disputa presidencial. Com este favoritismo, o Lula adquirirá condições de conquistar o apoio do empresariado e de partidos do Centrão.
No segundo cenário (Cenário 2), a crise econômica é relativa. A partir do 2° semestre deste ano, o número de mortes e contaminados pela Covid-19 declina. Inflação controlada, juros sobe, mas não tanto. E a recuperação econômica é razoável. Empresários e Centrão continuam a apoiar o presidente Bolsonaro. Apesar de insatisfações pontuais. E a popularidade do governo Bolsonaro fica em torno de 30% a 35%. Neste cenário, a disputa eleitoral entre Lula (ou outro candidato do PT) e Jair Bolsonaro é acirrada.
No último cenário (Cenário 3), o qual considero, neste instante, improvável, a recuperação econômica é robusta. Os juros voltam a declinar. O Auxilio Emergencial é estendido para 2022. Em dezembro de 2021, o porcentual de brasileiros vacinados chega a mais de 60%. Com isto, o presidente Bolsonaro adquire condições de justificar equívocos do seu governo culpabilizando a Covid-19 e mostrando que agiu com coragem para salvar vidas e empregos. Neste cenário, a popularidade do presidente alcança 40%. E a rejeição do ex-presidente Lula atinge o patamar de 60%. Centrão e empresários apoiam com entusiasmo o presidente-candidato e ele é favorito a derrotar o PT na eleição.
Em todos os cenários apresentados não fiz menção ao candidato do centro. Foi proposital. Pois vejo que a disputa entre PT, independente se o candidato é Lula ou não, versus Bolsonaro deve existir em 2022. Contudo, duas ressalvas: 1) Ainda não está claro o impacto da pandemia no eleitor; 2) O cenário 1 apresentado, onde a popularidade do presidente Bolsonaro declina para abaixo de 30%, poderá favorecer um candidato do centro. Portanto, o melhor cenário para o competidor do centro é a derrocada do governo Bolsonaro.
Entretanto, uma incógnita: os militares opinarão sobre a eleição vindoura caso o cenário 1 venha predominar?