Djalma Silva Guimarães Júnior é Economista do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau e consultor da Contexto
Em uma economia cada vez mais dependente de inovações e de produtos de elevado conteúdo tecnológico, a competitividade de uma nação/empresa está diretamente relacionada ao domínio do desenvolvimento e da produção das “novas tecnologias”.No pós Segunda Guerra algumas economias européias e a japonesa passaram por um período reestruturação de sua indústria e de modernização, formando mais tarde com os EUA os principais players do mercado high-tech. Sobretudo a japonesa com a introdução da lógica de produção “Toyotista” e da rápida agregação da inovação em sua estrutura produtiva. Algumas décadas mais tarde os tigres asiáticos e em especial a Coréia do Sul entram neste mercado de alta tecnologia, a partir de pesados investimentos em educação, pesquisa, etc.Brasil e China entram nesse processo de forma tardia e distinta. De um lado o Brasil com o seu modelo de substituição de importações que não criava incentivos para o desenvolvimento de uma cultura inovadora, bem como o abismo existente entre centros de pesquisa (universidades) e a iniciativa privada, dentre outros fatores.
A China por sua vez, pautada em um estado autoritário, através da atração de empresas e em grosso modo através da cópia “reengenharia de produtos”, inovação pautada na imitação, posição estratégica definida pelo estado tem-se expandido seu poderio no mercado de itens high-tech.
Uma prova da tenacidade dos chineses e da visão de longo prazo é sua política para com as “terras raras”. Por volta da década de 1970 a China possuía uma produção não muito significativa de terras raras, todavia, a partir de uma visão estratégica da importância destes minerais para as tecnologias de ponta em um futuro próximo, o país adotou uma política de expansão de sua capacidade produtiva de forma a se tornar o principal fornecedor no mercado internacional. A produção chinesa destes preciosos insumos chegava ao mercado internacional a preços baixos e quantidade ajustada à demanda, de forma que tal fornecimento desestimulou a extração de tais minerais em outros países. A partir desta estratégia a China hoje é responsável por 97% da produção mundial.
Mas por que estes minerais são tão importantes? As terras raras são minerais não ferrosos que incluem 17 elementos químicos que são fundamentais para a produção de produtos de alta tecnologia a exemplo de computadores, televisores, aviões, mísseis, etc. Disto decorre a preocupação de europeus, japoneses e americanos com a diminuição da oferta de tais minerais promovida pela China no ano de 2010, em torno de 40%.
Além de dominarem a produção, o chineses a partir dos últimos acontecimentos, parecem desejar dominar o beneficiamento e o uso de tais metais, de forma a abocanharem uma fatia desse lucrativo e estratégico mercado de produtos de alta tecnologia.
E o Brasil nesta história, o país possui reservas modestas, mas importantes, até aproximadamente 1915 o país era o importante produtor de tais minerais, mas tal produção foi colocada em segundo plano, e só agora com a ação monopolista dos chineses o país começa a ensaiar qualquer tentativa de ressuscitar tal produção.
Apesar dos importantes investimentos e parcerias anunciados nos últimos dias, parcerias com americanos e esta semana acordos bilaterais com os chineses em setores de alta tecnologia, energia, aviação, educação e agricultura, fica nítida a falta de uma estratégia brasileira para o desenvolvimento da extração e beneficiamento de terras raras, um setor vital para o domínio e a produção de produtos de alta tecnologia e de maior valore agregado.
Algumas das iniciativas recentes para reativar o parque produtor de terras raras no Brasil são decorrentes do interesse de outros países em reduzir sua vulnerabilidade frente o monopólio chinês, a exemplo da parceria entre uma empresa japonesa e uma sul coreana com a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) para a extração de terras raras. Entretanto, tal iniciativa é apenas mais um incentivo para a produção de mais uma commoditie de exportação, e não um projeto de pesquisa e desenvolvimento para o domínio do processamento de tais minerais, como forma de afirmar a indústria brasileira como produtora de produtos de alta tecnologia e conseqüentemente maior valor agregado.