Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor do Departamento de Ciência Política da UFPE.
Não restam dúvidas de que o presidente Bolsonaro ofertou inúmeras razões para sofrer o impeachment. Jair Bolsonaro ignorou a pandemia da Covid-19. Desconsiderou a vacina. Atacou as instituições. Incentivou ataques à democracia. Entretanto, é escolha ótima para o futuro do Brasil o impeachment do presidente Bolsonaro?
Fui contra ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Sou contrário, neste instante, ao impeachment de Jair Bolsonaro. A razão para o impeachment de Dilma foi irrelevante – pedalada fiscal justificável. Contudo, Rousseff estava à época inserida em um ambiente de forte turbulência política: 1) A exagerada Lava Jato; 2) Denúncias de corrupção contra o ex-presidente Lula; 3) Crise econômica; 4) Um inimigo na presidência da Câmara dos Deputados; 5) Eleitores nas ruas.
As 5 razões elencadas explicam o impeachment de Dilma Rousseff. Porém, os defensores do impeachment esqueceram das consequências dele. Se Dilma não tivesse sido impedida de governar, Bolsonaro venceria a eleição de 2018? Indagação que não requer resposta. Mas reflexão. Quais as consequências do impeachment do presidente Bolsonaro? Antes da reflexão, ofereço possíveis respostas.
O ambiente que o governo Bolsonaro está inserido tem as seguintes variáveis: 1) Crise econômica; 2) Forte crise sanitária; 3) Ineficácia do Plano de Vacinação contra a Covid; 4) Pessoas mortas por falta de oxigênio; 5) Ausência de diálogo com os governadores. Ambiente político perfeito para o impeachment. Mas o debate sobre o impeachment do atual presidente da República reforçará a crise que o país vive. O ambiente ficará insuportável.
Imagina o combate à Covid-19 no decorrer do debate sobre o impeachment de Bolsonaro na Câmara dos Deputados? Imagina parcela do eleitorado nas ruas defendendo, legitimamente, o presidente da República? Qual será a posição das Forças Armadas sobre o impeachment? E os militares estaduais defenderão o presidente? Considere ainda que com o impeachment as reformas Tributária e Administrativa, essenciais a qualquer governo, não serão prioridades. E o novo Auxílio Emergencial também.
A escolha ótima para o presidente Bolsonaro é ceder novamente, assim como fez no 1° semestre de 2020. Em 2020, Bolsonaro cedeu ao Centrão e às instituições. Isto foi bom para o Brasil. Novamente, o presidente Bolsonaro precisa recuar, ceder. O seu recuo é a melhor saída para o Brasil.