O governo dá seus primeiros passos e setores do PT já veem em Dilma Rousseff a chance de conquistar um eleitorado historicamente refratário à sedução petista: a tradicional classe média.
A expectativa vem das primeiras pesquisas de popularidade. De acordo com o Datafolha, Dilma foi bem avaliada tanto pela classe C, reduto lulista, quanto pelos estratos com renda familiar superior a R$ 5.540.
Esse desempenho alimenta no PT a esperança de furar a hegemonia tucana no Estado de São Paulo.
Nesses cem primeiros dias de governo, Dilma ensaiou pinceladas de uma agenda pop para a classe média.
Exibiu perfil gerencial e toque menos ideológico na política externa. Prometeu, com ministério específico, melhorar as condições da aviação comercial; anunciou corte de gastos; jantou com artistas e foi ao teatro.
Mais: com uma campanha de valorização feminina, a presidente conquistou o apoio expressivo das mulheres, feito "nunca antes" experimentado por Lula.
O programa de erradicação da miséria -pé de Dilma na agenda da pobreza- só deve sair em algumas semanas. Apesar do reajuste dado ao Bolsa Família em março, os maiores flertes foram com a clássica classe média.
VOO PRÓPRIO
Em 2003, Lula teve condições semelhantes às da sua sucessora, mas perdeu apoio no meio do caminho após o escândalo do mensalão. Conseguiu, ao fim do governo, se recuperar, com recordes de aprovação.
Dilma herdou alguns desses ganhos, e teve voos próprios desde a eleição: com Lula, a diferença de popularidade entre os mais ricos e os mais pobres era de 17 pontos no final de 2010. Com Dilma, caiu para 10 pontos.
"É cedo para dizer se é permanente. Mas a agenda dela está quebrando resistência entre mulheres e setores médios, como a mídia. Futuras pesquisas darão avaliação mais pura", afirmou Mauro Paulino, diretor do Datafolha. "Tudo tem que se confirmar à luz da economia", acrescentou.
E é justamente a economia o elemento com poder de frustrar esse "affaire". O risco tem nome: inflação, que é hoje a maior dor de cabeça do Palácio do Planalto.
Sucessivas derrotas em São Paulo levaram o partido à autocrítica. "O PT deve construir agenda que dialogue com os setores médios", define um balanço elaborado pela sigla em 2010. Outro erro "capital", segundo petistas, foi não investir na renovação de quadros.
A senadora Marta Suplicy (SP) e o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), derrotados em eleições recentes, são os favoritos para a campanha de 2012.
Problema: em 2008, Marta chegou a 53% de rejeição entre os mais ricos. Em 2010, Mercadante bateu 39%. Petistas dizem que é hora de abrir espaço para novos nomes: os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Alexandre Padilha (Saúde) e Fernando Haddad (Educação).
Na reta final da campanha, a rejeição a Dilma na cidade de São Paulo rondava os 49%. Hoje, sua avaliação negativa na capital atinge 8%, num sinal de recuo da resistência à presidente.