Disputar eleições contra cisne negro é tarefa árdua. Pois é difícil para o estrategista avaliar o impacto da estratégia que deve promover a desconstrução do cisne. Pesquisas, em particular qualitativas, têm o poder de antecipar o efeito da estratégia. Porém, mesmo com a possível mudança da estratégia, a dificuldade de enfrentar o cisne negro continua.
Por ser um cisne negro, Bolsonaro é o imponderável, o fenômeno. Retiro o chapéu para o economista Paulo Guedes. Desde cedo, Guedes vislumbrou o potencial de Bolsonaro. Pode ter sido intuição. Não tem problema. Estrategistas e cenaristas não devem relegar a intuição. Ela é importante. O desempenho de Bolsonaro no 1° turno mostrou que qualquer previsão para o 2° turno deve considerar que ele é favorito para vencer a eleição.
Bolsonaro obteve expressiva votação e contrariou preditores tradicionais do voto. Ele não tinha tempo de TV adequado, recursos financeiros, estrutura partidária e candidatos competitivos aos governos estaduais. Mesmo diante da escassez, Bolsonaro avançou sobre territórios lulistas, como a região Nordeste e as classes D e E.
O favoritismo de um candidato não obriga você desprezar o competidor oponente. Não desprezo Haddad, apesar de considerar Bolsonaro favorito. Quais as chances de Haddad? O candidato do PT retirou Lula da campanha. Estratégia correta. Ele agora é mais Haddad. Pois o antilulismo é rejeitado, assim como o bolsonarismo, se é que ele exista. No instante em que Lula sai da campanha, Bolsonaro passa a ter um novo adversário, qual seja: Haddad. Como o eleitor reagirá ao novo posicionamento estratégico de Haddad?
Bolsonaro irá a algum debate? Caso não vá, como reagirá o eleitor? E se Bolsonaro for, qual será o seu desempenho? Haddad terá a oportunidade de trazer temas econômicos para a campanha, e, com isto, tentar esvaziar o debate moral trazido por Bolsonaro. Como reagirá o eleitor? E, por fim, pode surgir uma “onda democrática”, onde esta adquirirá condição de obter volume na rejeição de Bolsonaro. Mas esta onda existirá?
Faço perguntas, pois não tenho respostas. O desempenho de Bolsonaro no 1° turno me permite classificá-lo como um fenômeno. E assim como no futebol, anular fenômenos é tarefa árdua para qualquer competidor. Alckmin sabe disto. Ele tentou sabiamente desconstruir Bolsonaro, mas não conseguiu. Haddad conseguirá?