Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 39 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio da Contexto Estratégia. Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
A interpretação dos eventos sociais requer parcimônia e olhar profundo no conteúdo social. Pesquisas quantitativas podem conduzir o estrategista ao erro já que a análise dos números é essencialmente objetiva. A subjetividade é necessária na interpretação dos porcentuais. Por isto, as pesquisas qualitativas são necessárias. O mergulho na realidade social requer interpretação de causa e efeito. E não simplesmente considerar a caracterização dos eventos. A arte de pensar claramente de Rolf Dobelli e o Fetichismo do conceito de Luis de Gusmão são duas obras que norteiam as minhas interpretações das pesquisas eleitorais.
O termo mudança continua a guiar as estratégias dos presidenciáveis de oposição. Pesquisas diversas mostram que a maioria dos brasileiros deseja mudança. Este é o dado objetivo. Entretanto, recente pesquisa do Ibope (Maio/2014) mostrou que 71% dos brasileiros estão satisfeitos com a vida que vem levando hoje. Neste caso, se eles estão satisfeitos, por que desejam mudar? Mudança é um termo que sugere movimento. Portanto, proponho que se considere a seguinte hipótese: os eleitores brasileiros desejam que o Brasil continue a mudar.
Se a hipótese apresentada é considerada, o raciocínio que conduz a criação da estratégia eleitoral partirá da seguinte premissa: parte dos eleitores brasileiros reconhece que o Brasil mudou nos anos recentes. E desejam que esta mudança continue. Isto significa, portanto, que a mudança desejada não representa ruptura com a ordem atual, na qual estão presentes conquistas. Mas a manutenção das conquistas, sem o retorno a dado ponto temporal, no qual, para parte do eleitorado, não existiam mudanças e conquistas.
A pesquisa do Ibope (Maio/2014) revela que 28% dos eleitores consideram “Bom” o governo da presidente Dilma. Neste universo, Dilma obtém 55% de intenções de voto. Aécio Neves, 7%; e Eduardo Campos, 12%. Ressalto que 7% consideram “ótimo” o governo Dilma. Portanto, os dados sugerem que se a avaliação do governo Dilma declinar, Eduardo poderá absorver eleitores dilmistas. Entretanto, existem condições para que a aprovação do governo Dilma decline mais?
A referida pesquisa do Ibope mostra que 20% dos eleitores afirmam que o governo Dilma é “Péssimo”. Aécio obtém neste universo eleitoral, 35% de intenções de voto. Eduardo Campos tem 30%. Conclusão: o principal adversário do PSB é o PSDB. Ou seja: se a reprovação de Dilma aumentar, Aécio e Eduardo tendem a crescer. Mas esta afirmação contradiz com a assertiva do parágrafo anterior? Sim. Não está claro, portanto, quem será fortemente beneficiado caso a avaliação de Dilma decline.
A pesquisa do Ibope (Maio/2014) sugere também que existe “teto” para o crescimento eleitoral da presidente Dilma. No primeiro turno, a presidenta obtém 40% de intenções de voto. No segundo turno, o seu porcentual máximo é de 43%. Mas tal teto me conduz a óbvia constatação: a pesquisa do Ibope mostra que a Avaliação da administração continua a sugerir associação significativa com a intenção de voto. Neste sentido, é possível que a avaliação positiva de Dilma decline mais? Esta é a indagação fundamental para o PT, PSB e o PSDB.