Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 39 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio da Contexto Estratégia. Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
Reli recentemente o livro de Jessé de Souza, a Modernização Seletiva. Esta excelente obra que coloca luz sobre os principais interpretes do Brasil – Gilberto Fyeire, Roberto DaMatta e Sérgio Buarque de Holanda – sugere que o desvendar dos eventos e hábitos sociais requer a estratificação social dos indivíduos. Quais as visões de mundo dos indivíduos dos segmentos socioeconômicos diversos? Para Jessé de Souza as práticas sociais das pessoas podem não ser semelhantes em virtude do estrato social em que estão inseridas.
A premissa de Jessé de Souza guiou a minha análise das manifestações de junho de 2013. Concluí com base em várias pesquisas de opinião que a causa principal das jornadas de junho foi o aumento da passagem de ônibus na cidade de São Paulo. As manifestações foram fortemente estratificadas economicamente. E a reclamação predominante dos manifestantes foi o aumento da passagem de ônibus. Em seguida, as agendas dos manifestantes foram as que sempre existiram: corrupção, violência e qualificação da oferta de saúde pública.
Logo em seguida às manifestações de junho de 2013 considerei que elas poderiam se repetir em junho de 2014 durante a realização da Copa do Mundo. Porém, os atos de violência praticados por diversos manifestantes, em particular o movimento Black Bloc, incentivaram a perda de apoio popular às manifestações. Neste sentido, afirmei e continuo a afirmar que na Copa do Mundo manifestações pontuais e de baixa intensidade ocorrerão.
Os eventos ocorridos na “super quinta”, em 15/05/2014, representaram novas manifestações. Ao contrário das manifestações de junho de 2013, estas da “super quinta” foram coorporativas. Movimentos dos Sem Teto, funcionários públicos, motoristas de ônibus e trabalhadores associados às entidades sindicais foram às ruas. As pautas principais foram moradia e melhoria salarial. Os manifestantes de junho de 2013 ficaram em casa.
A “super quinta” representou o terceiro estágio das manifestações. Os levantes de junho corresponderam ao primeiro estágio. O Black Bloc ao segundo. Novos atores e pautas surgiram no terceiro estágio das manifestações. Os atores da “super quinta” não foram os mesmos das jornadas de junho de 2013. As pautas também. Elas só se assemelham num ponto: clamam que os governos atendam às suas demandas.
Observo que parte dos manifestantes da “super quinta”, no caso o Movimentos dos Sem Teto e funcionários públicos, têm as suas demandas atendidas historicamente pelo PT. Portanto, não cometam erros interpretativos. Os manifestantes da “super quinta” fizeram barulho, sugeriram que a sociedade está inquieta, mas, certamente, caminharão com o PT nas eleições deste ano.