Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 39 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio da Contexto Estratégia. Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
O antropólogo Gilberto Velho utiliza o termo sociedades complexas para qualificar os agrupamentos humanos contemporâneos. O brilhante antropólogo discorre sobre escolhas individuais, status social, ações, significados e símbolos para evidenciar as razões das atuais sociedades serem complexas. E, por consequência, requererem árduo esforço intelectual para serem compreendidas.
A dinâmica da eleição presidencial de 2014 sugere complexidade? Sim. As pesquisas quantitativas revelam que existem riscos e oportunidades para os três principais competidores. E que Dilma, apesar dos riscos, continua a ter frágil favoritismo de vencer a disputa no primeiro turno. Esta última afirmação não se baseia, exclusivamente, na intenção de votos, mas em outros indicadores que sugerem, inclusive, a utilização do método qualitativo para que conclusões interpretativas se consolidem.
Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e o instituto MDA revela que a avaliação positiva da presidente Dilma Rousseff é baixa: 36,4%. Assim como a negativa: 24,8%. Então, qual é a avaliação da gestão da presidente Dilma, se 37,9% a classificam como regular? Neste sentido, os eleitores sugerem ao estrategista que estão em dúvida quanto a que posição tomar em relação à avaliação do gestor. O regular está presente no centro de uma linha imaginária, onde os extremos representam aprovação ou reprovação.
Campanhas importam. Tal premissa é verdadeira. Campanhas importam para todos os competidores. Esta premissa também é verdadeira. Portanto, Dilma tem condições de conquistar eleitores que hoje classificam o seu governo como regular. E Aécio e Campos também. Este é o dado. Não se pode afirmar, exclusivamente, que os oposicionistas conquistarão eleitores quando a campanha televisiva começar.
Potencial ameaça para Dilma foi revelada pela pesquisa CNT/MDA: 77,2% dos eleitores consideram que o custo de vida aumentou. Este indicador é o adequado para prever a escolha dos eleitores diante da conjuntura econômica. Esqueçam a variação do PIB. Eleitores têm sentimentos. Portanto, se eles “sentem” que estão perdendo poder de compra e a responsabilidade da perda é do presidente, eles podem vir a escolher um opositor à Dilma no dia eleição.
Oportunidade para Dilma e risco para a oposição: 35,2% dos eleitores desejam que o próximo presidente continue totalmente ou com a maioria das ações da atual presidente. Este dado sugere que 35,2% dos eleitores desejam continuidade. E se existe o instrumento da reeleição, estes eleitores tendem a votar em Dilma – Hipótese.
Outro dado relevante: 25% (CNT/MDA) desejam que algumas ações da atual presidente continuem, mas que a maioria delas mude. Mas, se os eleitores imaginarem, no decorrer da campanha, que poderão perder conquistas já alcançadas? Então, diante deste contexto, é adequado considerar que: 60,2% dos eleitores desejam continuidade e mudanças pontuais e que, não necessariamente, o presidente deva ser trocado.
Portanto, não concentro meus olhos em apenas uma única hipótese, qual seja: 62,2% dos eleitores desejam mudança. A pesquisa CNT/MDA mostra que 37,2% dos eleitores desejam que o próximo presidente mude totalmente a forma de governar. Este é o universo real de eleitores que almeja mudança. E Aécio e Campos já conquistaram este universo.
Eduardo Campos, desconsiderando as variáveis geográficas, tem uma vantagem sobre Aécio Neves: 29,1% não conhece o presidenciável do PSB. Isto significa que ele pode crescer. Mas tal dado sugere também que à medida que ele se torne conhecido, a sua rejeição possa vir a aumentar. Por fim, constato que PSB e PSDB estão brigando, ainda, pela mesma fatia do eleitorado. Nenhum deles conseguiu conquistar eleitores de Dilma, a qual tem intenções de voto, considerando várias pesquisas recentes, entre 40% a 45%.