Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
Recomendo aos atores políticos, analistas e estrategistas que rememorem as suas respectivas previsões eleitorais feitas durante este ano. Relembro algumas delas, as quais estão fortemente arraigadas na minha memória, já que elas foram repetidas por várias vezes: 1) Dilma será eleita no primeiro turno com facilidade; 2) Dilma não vencerá a eleição de 2014. Este prognóstico foi feito após as manifestações de junho de 2013; 3) A aliança Eduardo e Marina fará com que Eduardo cresça eleitoralmente.
Todas as previsões apresentadas foram construídas com base nos dados advindos de pesquisas e no calor das emoções. A emoção, como bem alerta o neurocientista Antonio Damásio, incentiva à ação. Talvez sem ela haja a possibilidade de não alcançarmos o que desejamos. Por outro lado, estes mesmos sentimentos podem nos conduzir para ações equivocadas. E previsões equivocadas nascem de interpretações apaixonadas das pesquisas eleitorais e das conjunturas presentes e vindouras.
O crescimento econômico nos dois anos iniciais do governo Dilma foi baixo. Mas, neste período, ela liderou as pesquisas de intenções de voto e conquistou alto porcentual de aprovação. O bom desempenho de Dilma entre os eleitores em períodos de baixo crescimento econômico emitia sinais de que o bem-estar econômico não explica de modo satisfatório as escolhas dos eleitores. Sentimentos importam para eles. Portanto, as pesquisas mostravam, inclusive as qualitativas, que eleitores admiravam Dilma e tinha expectativas positivas quanto ao seu desempenho.
Após as manifestações de junho de 2013, o desempenho eleitoral de Dilma sofreu hecatombe. Várias teorias, sem respaldo empírico, surgiram para explicar as causas das manifestações. Os fenômenos ocorridos em junho de 2013 foram ocasionados em razão do aumento da tarifa do transporte público em São Paulo. No dia 20/06/2013 várias manifestações aconteceram em diversas cidades, onde os manifestantes foram às ruas reclamar, majoritariamente, do aumento da tarifa do transporte público e da corrupção pública.
Antes do dia 20/06, vários gestores do Brasil anunciaram a redução da tarifa do transporte público. Portanto, a causa das manifestações não mais existia. Então, elas só ocorreram em outras cidades, em razão da intensidade das manifestações acontecidas em São Paulo. Ou seja: estávamos diante do fenômeno imitação social. Friso, ainda, que o perfil dos manifestantes paulistas, recifenses e brasileiros, como atestam várias pesquisas é: 1) Renda acima de 5 salários mínimos; 2) Educação superior completa e incompleta.
Dilma pautou as suas estratégias eleitorais nos eleitores das classes C e D, os quais não são manifestantes. Ela também reposicionou a discussão eleitoral: o desempenho da economia se restringe a taxa de desemprego e ações sociais foram anunciadas e fortalecidas, como o Programa Mais Médicos e Minha Casa Minha Vida.
Portanto, não existe nenhuma surpresa quanto ao resultado da última pesquisa do Datafolha (30/11/2013) que mostra Dilma liderando, com conforto, a disputa presidencial. E pode continuar a liderar, caso os estrategistas da oposição não descubram que o povo aprovou, bestializados (Expressão copiada de José Murilo de Carvalho), as manifestações de junho, mas estão satisfeitos, em parte, com Dilma. E quem decide as eleições são os bestializados. Então, estratégias precisam ser criadas para conquistá-los.
Neste instante, continuo a afirmar que Dilma tem frágil favoritismo para vencer no primeiro turno. Porém, observo as seguintes ameaças para Dilma: 1) Candidatura de Marina Silva; 2) Sucesso eleitoral de Aécio Neves em São Paulo e Minas Gerais; 3) Candidaturas de Randolfe Rodrigues (PSOL), Joaquim Barbosa e do PSC. Tais eventos, neste instante, caso ocorram, poderão condicionar o segundo turno.