Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
A literatura dos estudos eleitorais considera a avaliação da administração dos presidentes como importante preditor dos resultados eleitorais. A tese recorrente é de que gestores bem avaliados têm mais chances de vencer a eleição. Os institutos de pesquisas consideram cinco indicadores para avaliar a gestão dos presidentes – ótimo, bom, regular, ruim e péssimo. Com base nestes indicadores e nas pesquisas divulgadas pelo instituto Datafolha, avalio que a eleição presidencial de 2014, neste instante, sofre de forte grau de incerteza quanto ao resultado eleitoral, embora, Dilma mantenha o seu frágil favoritismo de vencer a eleição no primeiro turno. A seguir, apresento as razões:
1. Em 16/03/2011, 47% dos eleitores classificavam o governo Dilma Rousseff como ótimo/bom. A avaliação da presidente foi crescente até 07/06/2013. Nesta data, a avaliação positiva (ótimo/bom) da presidente foi de 57%. Em 28/06/2013, nova pesquisa revelou que 30% dos eleitores aprovavam (ótimo/bom) o governo de Dilma Rousseff. A queda abrupta na avaliação da presidenta deveu-se, em parte, às manifestações ocorridas em várias cidades do Brasil no mês de junho. Após a queda, as pesquisas mostraram lenta recuperação da aprovação da presidenta. Pesquisa realizada em 09/08/2013 mostrou que 36% dos eleitores aprovavam o governo Dilma. E em 11/10/2013, 38%. No período de 2 anos e 9 meses de governo, a presidente Dilma teve o seu ponto alto de aprovação em 21/03/2013 – 65% de aprovação. E obteve porcentual menor em 28/06/2013 – 30%. A pergunta neste instante é: na trajetória eleitoral que resta ao seu governo, Dilma recuperará o alto índice de popularidade já conquistado?
2. Quando a aprovação de Dilma Rousseff decresceu para 30% (28/06/2013), a sua reprovação era de 25% (ruim/péssimo). Tal reprovação está sendo reduzida lentamente. Ou seja: Em 09/08/2013, a reprovação de Dilma foi de 22%. E em 11/10/2013, 19%. Portanto, quando avalio os indicadores aprovação e reprovação, observo lenta recuperação da avaliação de Dilma Rousseff. Tal recuperação continuará?
3. Regular é uma variável importante apresentada em todas as pesquisas eleitorais. Esta variável, considerando uma linha imaginária, fica no centro de dois pólos distintos, quais sejam: aprovação (ótimo/bom) e reprovação (ruim/péssimo). Sendo assim, tenho a hipótese de que os eleitores que classificam a gestão de alguém como regular estão indefinidos quanto à avaliação do governo. Neste sentido, eles poderão rumar, a qualquer instante, para um dos polos existentes: aprovação ou reprovação. Outra hipótese que proponho é: a aprovação sugere que os eleitores não estão dispostos a mudarem o governo. E os que o reprovam estão dispostos a mudarem.
4. Diante do exposto, observo que em 16/03/2011, 7% dos eleitores estavam dispostos a mudar o governante. Em 28/06/2013, eram 25%. Nesta data, 30% queriam a continuidade da presidenta Dilma à frente da gestão do país. As pesquisas seguintes do Datafolha mostram que o desejo de mudança, perde, lentamente, força, pois em 09/08/2013, 22% reprovavam o governo e em 11/10/2013, a reprovação era de 19%.
5. O número de eleitores indefinidos, no caso, os que classificam a gestão da presidenta Dilma como regular, sempre esteve, no período de 2 anos e 9 meses, igual ou acima de 27% no universo dos eleitores pesquisados. Em 21/03/2013, 65% dos eleitores desejavam a continuidade da presidenta Dilma à frente do governo. 7% desejavam mudança e 27% estavam indefinidos. Em 28/06/2013, pesquisa realizada após as manifestações de junho de 2013, mostra que o desejo de continuidade era de 30%. O de mudança de 25% e o porcentual de eleitores indefinidos foi de 43%. Duas pesquisas realizadas recentemente mostram que o porcentual de eleitores indefinidos continua estável em 42%.
6. Pesquisa do Datafolha realizada em 11/10/2013 revela que os eleitores indefinidos obtêm o seu maior porcentual entre os jovens (16-24 anos), 50%. No universo dos que ganham de 2 a 10 salários mínimos, 44%. E estão mais concentrados nas regiões metropolitanas, 44%; e na região Norte/Centro-oeste, 44%.
7. Portanto, avalio, conforme costumeiramente afirmo, que a eleição de 2014 continua em estado de incerteza, já que o porcentual de eleitores indefinidos continua estável, mesmo diante da lenta recuperação da popularidade da presidenta e de eventos políticos marcantes, como a aliança Eduardo/Marina. Ressalto, que os eleitores indefinidos poderão se movimentar para qualquer um dos lados da linha imaginária. A movimentação depende, obviamente, dos eventos que estão para ocorrer, e em particular das campanhas eleitorais. Neste instante, não constato forte desejo de mudança por parte do eleitor. Mas apenas indícios, os quais também refletem desejo de continuidade.