Adriano Oliveira – Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
A decisão do governador Eduardo Campos em não mais participar do governo Dilma Rousseff sugere rupturas nas tradicionais alianças partidárias e pode inaugurar um novo ciclo na dinâmica eleitoral. Desde o inicio da era petista, o PSB esteve ao lado do PT e contra o PSDB. Na era Lula, o PSB não ofertou candidato à presidência. E na disputa com Dilma fez o mesmo. As eleições presidenciais nas eras petistas foram caracterizadas pela disputa entre PT e PSDB.
A saída do PSB do governo do PT não significa que Eduardo Campos será candidato a presidente da República em 2014. Mas representa um obstáculo superado pelo PSB para que Eduardo Campos seja candidato competitivo a presidente. Antes da entrega dos cargos, as principais lideranças do PSB utilizavam da voz para mandar recados para o governo Dilma, os quais não tinham impacto entre os eleitores. Na era dos recados, não existia estratégia eficaz que possibilitasse o crescimento eleitoral de Eduardo Campos.
Com a saída do governo, o PSB terá condições de encontrar outras estratégias. Recados, os quais eram costumeiramente enviados, precisam ser substituídos por estratégias discursivas que mostrem que Eduardo Campos representa alternativa ao governo do PT. Para tanto, faz-se necessário que Eduardo apresente propostas para o Brasil. Tais propostas não devem representar rupturas com as eras FHC, Lula e Dilma, já que os eleitores reconhecem os benefícios destes governos.
A construção de propostas alternativas ao PT será o principal desafio do PSB, em razão de que desde a era FHC, a agenda governamental é comum aos principais atores da oposição e do governo. Eduardo ou qualquer outro candidato precisará ofertar propostas em forma de gatilhos emocionais que provoquem os eleitores a acreditarem que existe alternativa ao PT.
Desafios precisam ser superados para a consolidação da candidatura a presidente de Eduardo Campos. A superação dos desafios condiciona as chances de sucesso eleitoral do governador de Pernambuco nos âmbitos local e nacional. Atrair partidos para o projeto presidencial do PSB é um desafio. Neste instante, o PPS aparenta ser o partido mais próximo do PSB. O DEM flutua entre PSDB e PSB, em razão dos interesses estaduais. Outros desafios para o PSB, os quais representam riscos, é a recuperação da popularidade de Dilma e a não candidatura presidencial de Marina.
A recuperação da popularidade de Dilma enfraquece a candidatura de Eduardo Campos. Inclusive, se tal evento ocorrer e for pujante, Campos poderá retomar a aliança com o PT na disputa presidencial. A não candidatura de Marina contribui para o sucesso eleitoral de Dilma no 1° turno. A ausência de Marina da disputa e a recuperação da popularidade da presidenta antes da campanha eleitoral fortalecem as chances de vitória de Dilma sem a necessidade de 2° turno.
Em Pernambuco, Eduardo Campos, caso seja candidato a presidente, terá um desafio: conseguir fazer o seu sucessor. A sua candidatura a presidente cria condições para que o PT apoie o senador Armando Monteiro ao governo de Pernambuco. Se esta possibilidade se consolidar, Eduardo terá que enfrentar o PT em Pernambuco, ou melhor: Lula/Dilma. Tal enfrentamento é uma ameaça às hegemonias política e eleitoral do PSB, pois a simbiose Lula/Dilma ainda provoca reações emocionais positivas em grande parte dos eleitores pernambucanos.
O livro “Voz, saída e lealdade” do economista Albert Hirschman serve de inspiração para a compreensão do passado, do presente e do futuro do PSB. A aliança (lealdade) caracterizou a relação entre PT e PSB nos últimos anos. Com o início do governo Dilma, membros do PSB usaram a voz para combatê-la e com o objetivo de conquistar eleitores. Em razão de conflitos, o PSB (saída) desembarcou do governo Dilma. A expectativa é se, a partir deste desembarque, Eduardo Campos conquistará eleitores suficientes que lhe levem ao segundo turno da disputa presidencial; e se conseguirá quebrar a lealdade de parte dos eleitores pernambucanos com Lula e Dilma.