Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
A variável intenção de voto não é a mais importante numa pesquisa. Ela apenas sugere dada realidade. A variável intenção de voto adquire força para explicar a realidade quando interpretada numa série histórica e outras variáveis são consideradas, como, por exemplo, nível de conhecimento dos candidatos, os sentimentos dos eleitores para com os competidores e as expectativas do eleitorado.
Costumeiramente, competidores desejam saber se estão na frente. Para muitos deles, a pesquisa só tem uma finalidade: mostrar quem lidera. Tal atitude e desejo conduzem os candidatos a estratégias equivocadas que podem possibilitar a derrota eleitoral. Os competidores também, por vezes, desprezam a interpretação da conjuntura. É na conjuntura, em razão das ações dos atores, as quais são provocadas por incentivos variados, que a intenção de voto é produzida. Portanto, a variável intenção de voto reflete a opinião do eleitor sobre dado candidato numa específica conjuntura.
Se a intenção de voto reflete a opinião do eleitor numa dada circunstância, é possível a construção de cenários eleitorais. Neste caso, vislumbrar qual será o desempenho do candidato na próxima pesquisa, a qual ocorrerá em dada conjuntura. Portanto, as indagações presentes na pesquisa eleitoral devem buscar compreender o comportamento do eleitor diante dos eventos da ocasião. Além disto, pesquisas eleitorais podem buscar identificar as expectativas dos indivíduos quanto ao futuro, ou seja, com os eventos que virão.
A pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Transportes e o instituto de pesquisa MDA no período de 31/08 a 04/09/2013 revela a expectativa do eleitorado brasileiro e sugere hipóteses de como ele irá se comportar em 2014. Em junho, 39,6% dos eleitores têm a expectativa de que “a situação do emprego vai melhorar nos próximos seis meses”. Em julho, a expectativa é de 32%. Em agosto ocorre crescimento: 34,7% acreditam que a situação do emprego irá melhorar.
Em junho, 44,5% dos eleitores consideram que a situação do emprego “irá continuar como está nos próximos seis meses”. Em julho e agosto, os porcentuais foram de 45,4% e 46,5%, respectivamente. No que condiz a melhora da renda, 35,8% dos eleitores afirmaram em junho que “ela irá melhorar nos próximos seis meses”. Nos meses de julho e agosto, os porcentuais foram de 29,6% e 36%. No mês de junho, 51,9% afirmaram que “a renda ficará igual nos próximos seis meses”. E em julho e agosto, 58,8% e 53,3% afirmaram que a renda será semelhante nos seis meses vindouros.
Para 16% dos eleitores, no mês de agosto, o emprego “piorará nos próximos seis meses”. No mês de junho e julho os porcentuais eram: 11,5% e 20,4%. Para 7,8% dos eleitores, no mês de agosto, a renda “vai diminuir nos próximos seis meses”. Nos meses de junho e julho os porcentuais eram: 8,5% e 8,8%.
O que me desperta a atenção é a expectativa dos eleitores. Os porcentuais mais altos são encontrados na categoria “vai ficar igual”. Neste sentido, os dados sugerem que parte do eleitorado não tem expectativas de crescimento da renda e do emprego. E é nesta conjuntura com eleitores acomodados que Dilma lidera as pesquisas de intenções de voto. Deste modo, considero que os candidatos da oposição precisam criar estratégias que despertem parte dos eleitores para que eles saiam da acomodação e consigam acreditar que algum candidato da oposição tem condições de fazer algo mais no âmbito econômico. Mas isto é possível?