Adriano Oliveira – Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
Jorge R. B. Tapia e Eduardo R. Gomes em brilhante texto – Ideias, interesses e mudanças institucionais (Revista Tempo Social, 2008) – mostram o papel das ideias e dos interesses na trajetória política da sociedade. Os autores revelam que ideias são ofertadas para a sociedade através dos atores e estes são provocados por ela. Neste caso, existe uma intercambialidade de interesses de ambos os atores – opinião pública e protagonistas políticos – que possibilitam a produção de ideias. Influenciado pelos referidos autores, considero que as ideias representam e integram a agenda dos eleitores e dos atores políticos.
Na era FHC, a agenda governamental, a qual foi influenciada, em parte, pelos eleitores, era: controle da inflação, responsabilidade com os gastos públicos e privatização. A primeira agenda, inflação, foi uma demanda consciente dos eleitores. O longo período histórico em que a população brasileira teve a sua renda corroída pelo processo inflacionário possibilitou condições propícias para que a decisão política de FHC em criar o plano Real pudesse lhe dar as condições para ser eleito presidente da República.
Lula manteve a agenda de FHC. Entretanto, em razão do controle inflacionário, os eleitores, após a era FHC, estavam inquietos, à procura de novas soluções para novas demandas. A mobilidade social, a qual era representada pela possibilidade do aumento da renda e do poder do consumo, era a nova demanda. Lula, através do aumento do salário mínimo, da oferta de crédito e de um discurso incentivador que influenciou as mentes dos eleitores, em particular, os que tinham raras oportunidades de consumir, possibilitou que novos consumidores surgissem no Brasil.
A presidenta Dilma foi eleita presidenta como a principal representante das conquistas da era Lula. Entretanto, ao contrário do ex-presidente, Dilma optou por desprezar a agenda de FHC. Por consequência, permitiu a alta da inflação e o aumento dos gastos públicos. Ao descobrir que foi a agenda de FHC que permitiu a ampliação do consumo dos brasileiros, Dilma recuou e incorporou a agenda de FHC ao seu governo. Neste instante, Dilma tentar recuperar o tempo perdido na economia.
As manifestações realizadas em junho deste ano mostraram que os eleitores brasileiros têm novas demandas. Mas as manifestações foram vetores explicitamente fortes que fizeram com que os competidores de 2014 acordassem para as novas demandas dos eleitores. Antes das manifestações, pesquisas já revelavam os novos anseios dos eleitores. Deste modo, considero que os pilares das agendas de FHC e Lula não mais encantam os eleitores. Mas isto não significa que eles precisam ser abandonados.
Se as agendas antigas não mais encantam, quais são as novas agendas dos eleitores brasileiros? Partindo da premissa lógica de que as conquistas das eras FHC e Lula não podem ser perdidas, observo que as novas agendas são oferta de serviços públicos com qualidade (Incluso mobilidade), eficiência na gestão e transparência. As três agendas estão interligadas. A oferta de serviços públicos com qualidade demanda gestão eficiente e transparência.
Para as três agendas saírem do campo das ideias e se transformarem em realidade, os protagonistas políticos precisam ter coragem de propor e agir. Neste caso, a demagogia e o simplismo não devem nortear os discursos dos presidenciáveis. Eles precisam mostrar como irão fazer. Em virtude das campanhas não terem começado, os competidores que enfrentarão Dilma em 2014 ainda não tiveram oportunidade de mostrar como irão atender às novas solicitações. Mas lembro: tanto Dilma como os candidatos oposicionistas tenderão a apresentar agenda sugerida. Então, o que os candidatos devem fazer para despertar os eleitores, se as agendas serão semelhantes?