Tomo emprestado de José Nêumanne o título deste artigo para mostrar as razões que levam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a não ser candidato à presidente da República em 2014. É óbvio que as escolhas dos atores políticos podem vir a contrariar a lógica. Mas nem todos os atores optam por contrariá-la, a não ser que sofram de miopia aguda.
O ex-presidente Lula não tem miopia. Ele consegue enxergar. O seus sistema 1, no caso a intuição, consegue vislumbrar cenários, os quais orientam as suas decisões. O ex-presidente é um caso a ser estudado, pois a sua intuição tem funcionado muito bem. Certamente, se o psicólogo Daniel Kahneman que estuda a intuição conhecer o ex-presidente Lula descobrirá que os sistemas 1 (intuição) e 2 (raciocínio) do ex-presidente interagem. Em razão disto, Lula enxerga além dos normais e raciocina de modo muito rápido.
Dilma será candidata em 2014, a não ser que um Cisne Negro (acasos) surja. Não vislumbro acasos na trajetória eleitoral de Dilma neste ano e nem em 2013. O que vislumbro são dificuldades, as quais são previsíveis. Alguns eventos tendem a trazer dificuldades para o desempenho eleitoral de Dilma, quais sejam: 1) Reduzido crescimento econômico; 2) Aumento da inadimplência; 3) Acomodação do mercado consumidor; 4) Apagões elétricos; 5) Aumento da gasolina em 2014; 5) Desorganização da Copa do Mundo.
No âmbito político, Dilma terá que ter capacidade ímpar para costurar alianças políticas entre PT e PMDB nos estados. O PSB é uma arma letal para o sucesso eleitoral de Dilma. E se Eduardo Campos, Aécio Neves, Marina Silva e Fernando Gabeira vierem a ser candidatos, o segundo turno deixa de ser possibilidade remota e passa a ser factível.
Diante dos eventos mostrados, talvez alguém diga: então Lula é candidato, pois com ele o PT vencerá a eleição. Engano. Tenho a hipótese, a qual será certamente confirmada em pesquisas qualitativas e quantitativas, de que o ex-presidente está presente de modo positivo na memória dos eleitores brasileiros. Mas isto não significa que os eleitores o querem de volta. Ou seja: Lula já faz parte da História do Brasil.
Devemos considerar também que o Brasil é formado por variadas regiões e estados. Neste sentido, a votação de Lula na última eleição que ele disputou para presidente foi concentrada. Portanto, Lula não é uma unanimidade, como muitos sugerem. Lula sabe que corre o risco de disputar uma eleição recheada de incertezas, mesmo com a possível desistência de alguns candidatos.
Deste modo, o que sei de Lula é que ele não será candidato em 2014 a presidente da República, pois as evidências apresentadas sugerem que o risco de derrota é um cenário possível. Lula sabe também que em 2014 a dicotomia entre PT e PSDB poderá findar. Então, por não sofrer de miopia aguda, Lula apoiará Dilma, pois ele sabe que já faz parte, merecidamente, da memória positiva dos brasileiros.