Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado. mauricio-romao@uol.com.br; http://mauricioromao.blog.br.
As pesquisas de intenção de votos detectam o sentimento de uma dada população naquele determinado instante de tempo em que está sendo realizada. É, como se costuma dizer, uma fotografia (snapshot) daquele momento específico. Esse sentimento pode mudar sob a influência de vários fatores: propaganda, desempenho dos candidatos, fatos novos, etc.
Daí por que não se pode considerar as estimativas de uma dada pesquisa como projeção dos resultados que se vão materializar no futuro. Pesquisa não projeta o futuro. É simplesmente uma ferramenta científica que se presta a detectar e antecipar determinada tendência, a partir de levantamentos sucessivos que tenham características semelhantes de desenho amostral.
É com base nesse prisma que deve ser lida a pesquisa da Contexto Estratégia sobre intenções de voto para Reitor da UFPE, levada a efeito entre os três segmentos da universidade, professores, funcionários e alunos, nos dias 22 e 23 de março corrente.
De fato, se a eleição fosse realizada naquele período os candidatos Anísio Brasileiro e Pierre Lucena estariam numérica e tecnicamente empatados na corrida para a reitoria, cada um com uma média de 30% de intenções de voto, sinalizando que o pleito deste ano pode ser um dos mais acirrados daquela comunidade. O professor Gilson Edmar viria em seguida com 10% das preferências dos três segmentos pesquisados.
Nota-se na Tabela que acompanha o texto que o professor Anísio Brasileiro lidera a disputa reitoral entre os professores e funcionários, enquanto o professor Pierre Lucena o faz entre os estudantes, mas com larga margem, a ponto de contrabalançar a desvantagem nos dois outros segmentos.
É interessante aduzir que na pesquisa espontânea, aquela em que não é mostrada ao entrevistado a cartela circular com os nomes dos candidatos, os números são bastante consistentes com a modalidade estimulada apresentada na tabela acima. Com efeito, na pesquisa espontânea Anísio Brasileiro tem, em média, 24% dos votos e Pierre Lucena 23%, configurando empate técnico, já que o levantamento tem margem de erro de 4,5 pontos de percentagem, para mais ou para menos. O candidato Gilson Edmar tem 8% nessa modalidade.
Mais uma vez, o levantamento espontâneo indica Anísio à frente de Pierre nos contingentes de professores e funcionários, porém bem atrás entre os alunos, tornando a média global dos candidatos praticamente iguais.
Os percentuais relativamente altos de intenção de votos na pesquisa espontânea, e próximos dos percentuais do quesito estimulado, sugerem que os nomes dos candidatos são conhecidos e já estão bem cristalizados nas mentes dos entrevistados. Quer dizer, ainda a certa distância da data do pleito, a comunidade universitária da UFPE tem conhecimento de que haverá eleição para Reitor este ano e sabe quem são os candidatos. No geral, os números da modalidade espontânea se aproximam dos números da vertente estimulada já bem mais próximo do pleito.
A atual administração do Reitor Amaro Lins, que apóia o candidato Anísio Brasileiro, é considerada ótima e boa por 63% dos professores e 62% dos funcionários, uma avaliação bastante positiva nesses estamentos. Já entre os alunos este percentual cai bastante, para 44%. No geral, numa média não ponderada, pouco mais da metade (56%) da comunidade universitária da UFPE acha que a administração do atual Reitor é positiva (ótima ou boa).
A administração do ocupante do cargo que se candidata, ou apóia outra candidatura, é sempre considerada um dos principais fatores determinantes do voto. Administrações mal avaliadas conspiram contra os candidatos a elas associados, enquanto que administrações bem avaliadas favorecem esses candidatos.
Os números relativamente bons da administração vigente, todavia, não parecem se materializar, nesta pesquisa, em apoio correspondente ao candidato do Reitor Amaro Lins. Com efeito, na pergunta “Você pretende votar para Reitor da UFPE num candidato apoiado pelo Reitor Amaro Lins?” 29% dos professores disseram sim, mas 30% responderam não e 35%, talvez. Ou seja, 65% dos professores não votariam ou estão em dúvida se votariam em um candidato apoiado pela pessoa física do Reitor. Entre os estudantes, esses números chamam mais à atenção: 20% afirmaram que sim, 31% responderam que não e 38% se mostraram em dúvida. O apoiamento a um candidato do Reitor é maior no núcleo dos funcionários: 32% revelaram que sim, 24% que não, e 35% disseram que talvez.
As candidaturas polarizadas estão tecnicamente empatadas (e quase numericamente empatadas) em vários outros quesitos. Por exemplo, na indagação “Em sua opinião, qual candidato merece ser Reitor da UFPE?”, Pierre tem 28% de intenções de voto no total, liderando disparado entre os estudantes, e Anísio aparece com 27%, sempre à frente entre os professores e funcionários. Neste item Gilson Edmar tem 11% no total.
No que concerne às promessas de campanha dos candidatos, a seguinte pergunta foi feita aos entrevistados: “Qual candidato a Reitor da UFPE você mais confia que irá cumprir com as promessas de campanha?” As candidaturas líderes na pesquisa têm tecnicamente o mesmo nível de credibilidade: Anísio teve 26% de intenções de voto e Pierre consegui 25%. Mais uma vez o primeiro sendo mais respaldado pelos professores e funcionários e o segundo, pelos alunos.
Em resumo, há indícios preliminares de que esta eleição para Reitor da UFPE se transforme numa das mais disputadas. Por hora, apenas por esta pesquisa, não se tem respaldo estatístico para elaborar previsões confiáveis. Levantamentos posteriores com mesma metodologia de confecção da amostra e de trabalho de campo poderão, naturalmente, trazer mais luzes aos números agora coletados.
O número de entrevistas, 843, foi estabelecido com base em uma amostragem aleatória simples com um nível estimado de 95% de confiança e uma margem de erro de 4,5 pontos percentuais.