Estamos acostumados ao desenvolver análises eleitorais, a mostrar o óbvio. Quando este não é apresentado ou analisado, críticas florescem. Pesquisas eleitorais, por exemplo, apresentam, costumeiramente, o óbvio, já que os analistas se preocupam apenas com as variáveis intenção de voto e avaliação da administração. Quando alguns analistas buscam mostrar o não óbvio através de pesquisas eleitorais, muitos se assustam.
O óbvio faz parte do senso comum. O óbvio é o esperado. O óbvio é aquilo que todo mundo já sabe e prever. O não óbvio não faz parte do senso comum. Ele é identificado através de raciocínio complexo e inovador. São poucas as pessoas que conseguem prever o não óbvio. É comum, nas disputas eleitorais, o óbvio fazer parte da agenda midiática. E o não óbvio ser relutado.
De acordo com recente pesquisa do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), João Paulo é um candidato competitivo caso não tenha adversários. Esta assertiva não é óbvia. Uma indagação não óbvia: se João Paulo for o candidato do PT a prefeito do Recife, o que ele, o PT e João da Costa dirão ao eleitor?
Caso João Paulo seja candidato a prefeito do Recife, a oposição poderá perguntar o não óbvio, ou seja: “João Paulo: por que João da Costa não é candidato a reeleição? João Paulo: você aprova ou desaprova a administração do prefeito João da Costa?” Estas duas indagações parecem, agora, óbvias, pois transformei o não óbvio em obviedade.
Outra discussão óbvia: Eduardo Campos deseja manter a aliança com o PT, pois ele pertence ao mesmo campo político do PT. Mas, Eduardo Campos deseja ser um político de expressão nacional. E para a contemplação de tal desejo, o PT pode ser um empecilho. Sendo assim, é correto apostar cegamente na manutenção da aliança PT e PSB em 2012 e em 2014?
A disputa municipal em Recife depende dos interesses dos atores em 2014. Três pólos de poder estão presentes na Frente Popular. Quais serão as escolhas dos atores Humberto Costa, Armando Monteiro e Eduardo Campos? Esta indagação é óbvia. Mas não é óbvia em razão de muitos não a fazerem quando decidem opinar sobre as eleições em Recife.
A pesquisa eleitoral do IPMN divulgada semana passada revelou que a administração de João da Costa sofre forte rejeição dos eleitores recifenses. Mas, mesmo assim, ele continua à frente dos candidatos da oposição. Constatação óbvia, mas como ninguém mostrou isto, a considero não óbvia.
Friso, ainda, que João da Costa tem condições de ser reeleito em razão de que os candidatos da oposição não conseguem superar João da Costa em votos. Afirmação óbvia para mim, pois a encontrei. Mas para outros, ainda continua sendo uma afirmação não óbvia.
O óbvio, como frisei, faz parte do senso comum. Recomendo que os atores fiquem atentos aos fatos que não são óbvios, pois desta forma, estratégias eficientes poderão ser construídas. Considero que em 2012, o obvio nem sempre acontecerá.