Ela também tinha perfil técnico, quase nenhuma ligação com as bases do PT e, ao ser escolhida por Lula, jamais havia disputado uma eleição.
O exemplo da presidente Dilma Rousseff, alçada ao Planalto no ano passado, virou mote dos defensores da candidatura do ministro Fernando Haddad (Educação) à Prefeitura de São Paulo.
O grupo usa a vitória de 2010 para endossar a nova aposta do ex-presidente, cujo afilhado ainda engatinha entre 1% e 2% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
Aliados da senadora Marta Suplicy, que alcança 31%, rechaçam a comparação e dizem que a receita lulista não teria o mesmo sucesso na cidade, onde o PT perde em todas as eleições desde 2004.
"A opinião do Lula conta muito, e o militante pensa nisso. Mas o militante também olha as pesquisas", disse anteontem o ex-ministro José Dirceu, resumindo o dilema que assola o partido.
A dois meses da data reservada para as prévias (27 de novembro), o ex-presidente tenta repetir com Haddad passos decisivos da operação que levou Dilma à Presidência, a começar por um curso intensivo em política.
O ministro já aprendeu a cortejar líderes locais, passou a elogiar gestões passadas do PT e exibe súbito conhecimento da burocracia partidária. No fim da semana, ele comemorava a possível adesão de mais dois vereadores, o que lhe daria o respaldo de 6 entre os 11 da bancada.
"O importante agora é conquistar apoio no PT. O treinamento para ganhar traquejo na rua virá numa segunda etapa", diz um dos articuladores escalados por Lula na fabricação do candidato.
"É um processo de construção", afirmou Haddad àFolha, na sexta-feitra.
"Eu e Dilma fizemos carreira acadêmica, fomos para a administração pública para servir a um projeto político e fomos escolhidos sem ter disputado uma eleição", disse.
"Mas as realidades nacional e local são muito diferentes e exigem posturas diferentes. Em São Paulo, o cenário é muito mais complexo."
DIVISÕES INTERNAS
Lula ungiu Dilma com a máquina da CNB (Construindo um Novo Brasil), corrente que controla 60% do PT nacional. No diretório paulistano, mais fracionado, sua fatia encolhe para 32%. Haddad só terá maioria se atrair dissidentes de outros grupos.
Para isso, os lulistas martelam o argumento de que Marta larga na frente, mas teria menor chance de vitória por causa da rejeição de 30%.
"Não é porque o candidato é novo que ele vai ganhar a eleição", rebate o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara e articulador da senadora no partido.
"O exemplo da Dilma não se aplica a São Paulo. Ela era candidata da situação e foi escolhida para continuar o projeto do Lula. Aqui nós somos oposição e temos que retomar o projeto da Marta."
O retrospecto do partido na cidade é desanimador. A última vitória do PT ao Executivo foi em 2002, quando Lula teve 51% dos votos válidos. Depois disso, os petistas perderam todas as eleições para prefeito, governador e presidente.
Os aliados de Marta dizem que o histórico reduz o peso que se atribui ao ex-presidente. Os de Haddad, que reforça a necessidade de renovar a oferta de candidatos para encerrar o ciclo de derrotas. A "operação Haddad" recicla outros recursos usados com Dilma, como as aparições públicas com Lula, cada vez mais frequentes.
O ministro também dedica mais tempo à busca de aliados. Amanhã, deve adiar a volta a Brasília para ir à posse do peemedebista Paulo Skaf para novo mandato na Fiesp. O ato vai reunir políticos e doadores de campanha.