Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa e Estratégia
Nem tudo é quantidade na eleição. Sentimentos e emoções dos eleitores importam muito para identificar e explicar as suas escolhas. Todavia, é comum, no mundo, que as eleições sejam excessivamente quantificadas. São as avaliações da gestão, mais as intenções de voto dos candidatos, que “enchem” de especulações as redes sociais, o ambiente político e a imprensa.
A cientista política Maria Hermínia Tavares em artigo na Folha de São Paulo (20/03/2024) me encorajou a voltar mais uma vez e rapidamente ao tema “quantidade na eleição”. Ela diz: “Já as oscilações não são de fácil leitura – o que delas faz terreno fértil para hipóteses divergentes, cujo acerto é impossível comprovar com os dados à mão. A oposição as atribui aos tropeços retóricos do presidente e aos desacertos da ação governamental. Já o governo, à inadequada comunicação do muito de bom que acredita estar fazendo”.
Tavares foi certeira. Os dados quantitativos nos motivam a criar hipóteses causais. Lembrando que hipóteses podem ser falseadas. Portanto, o governo Lula perdeu popularidade em virtude de que criticou Israel – Hipótese 1. O governo Lula tem queda de popularidade porque os preços de alimentos aumentaram – Hipótese 2. Todas elas são plausíveis. Mas quais são as razões que explicam satisfatoriamente a queda da popularidade do governo Lula?
Antônio, candidato a prefeito, tem 38% de intenções de voto. Vicente, o seu adversário, 26%. Quais motivos do voto em ambos? Quais os sentimentos dos eleitores para com a eleição municipal vindoura? Quais os qualificativos atribuídos a eles? Por que o prefeito Antônio, que apoia Vicente, tem 42% de aprovação? Quem deve vencer a eleição? Os dados quantitativos criam mais hipóteses, as quais podem ser consideradas especulações, do que explicações causais que decifrem os sentimentos do eleitor.
O excesso de quantidade na eleição gera excesso de especulações. Por consequência, o ambiente eleitoral fica turvo, isto é, difícil de ser interpretado. Os dados qualitativos, advindos da pesquisa qualitativa, tem o papel de identificar as opiniões e os sentimentos dos votantes e decifrar as causas delas. Não é a quantidade de questionários que explicam satisfatoriamente as escolhas do eleitor e torna nítido a conjuntura eleitoral. É a diversidade das entrevistas qualitativas, sejam 20, 24, 30, 36, 40 entrevistados, que tem o poder de identificar as causas das quantidades, ou seja, porque governos são aprovados ou reprovados, e os motivos da liderança de um competidor