E se a Lava Jato não tivesse existido, o bolsonarismo existiria?
Adriano Oliveira
abril 01, 2024
Por Adriano Oliveira. Cientista Político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência – Pesquisas e Estratégia
Em maio de 2018, antes da eleição presidencial brasileira, Alberto Carlos Almeida publicou a excelente obra “O voto do brasileiro”. A tese de Almeida é: existem lógicas econômica, social e geográfica nas escolhas dos eleitores. Por consequência, a eleição para presidente da República em 2018 obedeceria a “lógica” histórica: PT e PSDB disputaria intensamente a eleição.
Sigo a concordar com a obra citada. A lógica na eleição presidencial permanece. O que mudou foi o ator. Se antes, tínhamos o PSDB versus o lulismo. Desde 2018, temos o lulismo versus bolsonarismo. Sabemos onde estão os votos do Lula e os de Bolsonaro. Existe, contudo, um segmento novo: os evangélicos optaram por Bolsonaro nas duas últimas eleições presidenciais e seguem a refutar, majoritariamente, o lulismo.
O que motivou a saída do PSDB da lógica eleitoral? Resposta simples: a chegada de Jair Bolsonaro. Mas por que o bolsonarismo surgiu? O cientista político Jairo Nicolau mostra, em seu belo último livro, que o Brasil dobrou à direita. Por que o Brasil dobrou à direita? Felipe Nunes, também cientista político, em parceria com o jornalista Thomas Traumann, publicou recentemente a magnifica obra: A biografia do abismo. Mais uma vez, o bolsonarismo em evidência. Após a leitura do livro de Nunes, indaguei: a polarização depende do bolsonarismo ou ela existirá independente de Jair Bolsonaro?
Mauricio Moura e Juliano Corbellini, politólogos, explicam, em brilhante obra (Eleição disruptiva: Por que Bolsonaro venceu?), que o antipetismo e a Lava Jato são variáveis que explicam as escolhas dos votantes em 2018 e sugerem algo fundamental: para decifrar o bolsonarismo, temos que analisar os impactos da Lava Jato no ambiente eleitoral. E assim fiz no meu livro “Qual foi o impacto da Lava Jato no comportamento do eleitor: Do lulismo ao bolsonarismo”.
Neste mês de abril, a desajeitada e exagerada Operação Lava Jato, completa 10 anos. As obras que citei são fundamentais para entendermos o eleitor brasileiro após a Lava Jato e me incentiva a apresentar a seguinte indagação: se a Lava Jato não tivesse existido, o bolsonarismo existiria? No meu livro, o qual foi aqui citado, através do índice estatístico Taxa de Impacto, mostrei que as operações da Polícia Federal no período de 2014 a 2018 influenciaram a opinião pública.
Revelei que em dezembro de 2016, 35% dos eleitores consideravam Lula o melhor presidente da História do Brasil. Em novembro de 2010 foram 71%; e no ano de 2015, após o início da Lava Jato, 35% citaram Lula como o melhor presidente do Brasil. No mês de dezembro de 2014, 12% dos votantes afirmaram que foi no governo Lula que existiu mais corrupção. Em abril de 2017 foram 32% dos votantes – Pesquisas Datafolha.
Destaco que em 7 de abril de 2018, Lula entrega-se à Polícia Federal e é preso. Em abril de 2018, Lula tinha 37% das intenções de voto; e Jair Bolsonaro, 15%. Mostro também no meu livro que após o atentado (7 de setembro e 2018) que Jair Bolsonaro sofreu, a sua intenção de voto cresce fortemente. Portanto, a saída de Lula mais a facada motivaram o crescimento do então candidato do PSL.
Através de inúmeras pesquisas de opinião e retrospectiva histórica, outros dados foram apresentados no meu livro sobre a eleição de 2018, os quais me possibilitaram afirmar que a Lava Jato criou ou reforçou o antilulismo e influenciou a escolha dos eleitores na eleição de 2018. Revelo que até hoje, sigo a perguntar: se Lula tivesse sido candidato em 2018, Bolsonaro venceria a eleição? O candidato do PT liderava as pesquisas eleitorais. Portanto, não é possível falar de bolsonarismo e antilulismo, sem considerar os efeitos da Operação Lava Jato.